postado em 08/12/2014 15:46
O custo unitário do trabalho (CUT) na indústria de transformação do Brasil subiu 11,6% entre 2010 e 2014, revela estudo divulgado nesta segunda-feira (8/12) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O gerente de Economia e Estatística do Sistema Firjan, Guilherme Mercês, disse que isso decorreu da mudança ocorrida na composição dos custos do trabalho no período pós-crise internacional. Nos quatro anos anteriores à crise (2004 a 2007), foi identificada queda do custo de trabalho de 1,4%.;Antes da crise, tinha a produtividade do trabalho crescendo mais do que os salários e nos [anos] pós-crise, com a produção industrial em baixa, teve o contrário. O processo foi invertido e os custos do trabalho, basicamente os custos com salários, passaram a crescer muito acima da produtividade. Ou seja, as indústrias brasileiras passaram a pagar mais por trabalhadores que produzem menos em uma hora de trabalho e, obviamente, o resultado prático disso é um choque de custos para a indústria brasileira;, informou o economista.
Dos 15 setores avaliados, 13 mostraram aumento nos custos do trabalho. Quase todos os segmentos tiveram elevação do custo no pós-crise. Guilherme Mercês destacou o setor têxtil, com alta de 28,2% nos últimos quatro anos. O setor sofreu forte concorrência de produtos importados. Os meios de transporte, por sua vez, teve um aumento de custos de 27,7%, com destaque para a indústria automotiva. ;Foram setores que tiveram uma queda de produção muito grande, no período, e os salários, a despeito disso, continuaram crescendo. Sofreram muitos choques de custo;.
Mercês disse que ao analisar a balança comercial é possível notar o resultado desse aumento de custos. ;São indústrias com bastante dificuldade de concorrer no mercado internacional;. Os únicos setores que mostraram redução dos índices de custos do trabalho no período pesquisado foram a madeira (-18,9%) e coque, refino de petróleo e biocombustíveis (-0,3%).
O estudo mostra que em um ranking de nove países ; Brasil, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Portugal, Colômbia e México ;, o mais alto custo unitário do trabalho é encontrado no Brasil, seguido da França (5,8%) e do Reino Unido (5,2%). Nos Estados Unidos, o CUT subiu 1,3% e, em Portugal, houve redução de 14,8%. O gerente da Firjan lembrou que logo após o início da crise, entre 2008 e 2009, diversos países trabalharam para diminuir os custos de produção, ;justamente na tentativa de aumentar a competitividade e retomar o crescimento;.
Na comparação com a Colômbia e o México, que apresentam estruturas econômicas similares a do Brasil, o país também perde, segundo Mercês, porque os demais implementaram um conjunto de reformas objetivando a redução do CUT, com a flexibilização das relações do trabalho. Na Colômbia, os custos do trabalho caíram no período 12,7% e, no México, 6,3%.
O economista avalia que o estudo demonstra a necessidade de uma ampla reforma trabalhista no país. ;O Brasil ainda convive com uma legislação trabalhista que tem mais de 70 anos e não é adequada à realidade do mercado de trabalho atual;. Segundo ele, a legislação tem muitos ;penduricalhos;, que tornam a relação de trabalho "custosa". Entre eles, citou a multa de 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que as empresas pagam ao governo pela demissões dos trabalhadores.