Agência France-Presse
postado em 19/12/2014 17:02
Moscou- A Rússia enfrenta no curto prazo um imenso desafio, com a ameaça de recessão, aumento dos preços e sistema bancário fragilizado, apesar de o rublo parecer mais estável após a queda acentuada no início da semana.O movimento de pânico na Bolsa na segunda (15/12) e na terça-feira (16/12) - quando o euro superou de forma surpreendente os 100 rublos, e o dólar, os 80 - se assemelhou a um pesadelo que encerra um ano de desvalorização progressiva da moeda, em um contexto de crise ucraniana e queda das cotações do petróleo, principal fonte de receitas do Estado russo.
[SAIBAMAIS]Depois dessa forte queda, é um alívio para os russos que o rublo pareça se estabilizar nesta sexta-feira (19/12), a 74 rublos o euro, e 59, o dólar. Essa recuperação se deve à decisão do Banco Central, obrigado a adotar uma elevação radical de sua principal taxa de juros (de 10,5% a 17%), mas também uma melhora nos preços internacionais do petróleo bruto.
Em sua coletiva de imprensa anual na quinta-feira (18/12), o presidente Vladimir Putin tentou tranquilizar os russos, assegurando que a crise será superada em dois anos. Ele não anunciou, porém, qualquer medida concreta para a combalida economia do país.
"A trajetória da economia nos próximos seis meses será pior do que o previsto por causa do que aconteceu nessa semana", advertiu Chris Weafer, da Macro Advisory, que prevê um recuo de 5% do PIB russo no primeiro semestre de 2015. "Consumo e investimentos vão sofrer com o aumento das taxas de juros, a inflação vai aumentar pela desvalorização da moeda, a confiança vai sumir", diz o especialista à AFP.
O efeito imediato da queda do rublo foi a decisão de alguns fornecedores de encerrar suas entregas: a Apple fechou sua loja virtual, a Ikea suspendeu suas vendas por dois dias, e as fabricantes de automóveis Opel e Chevrolet interromperam suas entregas às concessionárias.
A imprensa russa cita decisões parecidas para as bebidas alcoólicas e para as roupas importadas (Zara, TopShop, Calvin Klein), que tentam evitar os prejuízos em um momento em que os russos se preocupam em comprar antes de uma nova desvalorização da moeda nacional. Isso gera inflação, perto de 10% anual e que ameaça chegar aos 15% nos próximos meses, com a perda de poder aquisitivo para as famílias.
Um setor bancário fragilizado
"Observam-se cada vez mais sinais da crise que se estende ao setor bancário", alertou nesta sexta-feira (19/12) a londrina Capital Economics.
O setor financeiro russo é particularmente vulnerável. Por um lado, existem poderosos elefantes públicos, e por outro, centenas de estabelecimentos fracos. As primeiras medidas anunciadas na terça-feira têm por objetivo assegurar a estabilidade financeira, com um maior acesso à liquidez e uma flexibilização das normas contáveis.
Nesta sexta, os deputados da Duma (parlamento) aprovaram um texto que prevê a recapitalização dos bancos por um bilhão de rublos (13 bilhões de euros). Assim, o ministro russo da Economia espera aumentar em 13% o capital do setor bancário e, para isso, o volume dos créditos oferecidos.
A espiral do rublo lembrou a muitos russos a crise de 1998, quando a Rússia esteve à beira da moratória. "As pessoas reagem como em 1998, mas não há motivo para isso. Em 1998, a Rússia era um país em quebra. Agora, tem boa saúde financeira", disse o analista.
Mais de dez anos de preços altos do petróleo permitiram que Moscou acumulasse reservas de divisas robustas, que superam os 400 bilhões de rublos, embora tenham se desvalorizado com essa crise. Sua dívida pública apenas supera os 10% de seu PIB, e o orçamento é agora equilibrado, inclusive registrando superávit.