postado em 23/12/2014 06:02
Aos 64 anos, a aposentada Adelaide Silva Simões está de bem com a vida. E, como faz questão de frisar, sentindo-se poderosa. Ela acabou de realizar um sonho: conhecer a França. Melhor, sem pedir nada a ninguém. Os 30 dias de viagem foram bancados por ela ; sem restrições. Tudo foi possível porque, há 10 anos, seguiu os conselho de uma das filhas e começou a poupar. Juntou o que pôde para fazer o passeio e, sobretudo, para os próximos anos de vida. ;Economizar parte dos meus rendimentos só me deu prazer. Não apenas porque aprendi o real valor do dinheiro, mas porque me deu um sentimento de poder que nunca havia sentido antes;, afirma.[SAIBAMAIS]Adelaide, porém, faz parte de uma pequena parcela de brasileiros com mais de 50 anos que pode usufruir dos prazeres da vida sem depender da ajuda de ninguém. Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que seis em cada 10 idosos não têm nenhum tipo de poupança. Passaram todo o período produtivo da vida sem guardar um centavo para garantir um futuro melhor. A situação piora entre os idosos das classe C e D. Oito em cada 10 deles estão desprovidos de reservas para bancar imprevistos ou evitar que tenham de recorrer a parentes para complementar o orçamento do mês.
;Poupar é o melhor investimento que se pode fazer na vida;, diz Adelaide. Mas foi preciso que ela levasse muitos tombos para aprender a lição. Com três filhas, dois netos e mais um a caminho, só percebeu que a gastança desenfreada estava lhe fazendo mal quando a mãe morreu. Viu-se desprotegida, inclusive financeiramente. O sofrimento obrigou-a a mudar. E a maior inspiração veio da filha mais velha, que, mesmo ganhando pouco, havia colecionado muitas vitórias. ;Ela sempre poupou. Conseguiu pagar os estudos, comprar apartamento e carro e viajar para o exterior antes dos 30 anos. Fez tudo isso só guardando o dinheiro que ganhava que não era muito;, relata.
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Contraste
A mudança da aposentada contaminou toda a família. ;As minhas outras duas filhas também passaram a economizar. O raciocínio em casa passou a ser o seguinte: de cada R$ 1 mil de salário, 10% tinham que ir, obrigatoriamente, para a poupança;, conta. Assim, as jovens estão longe de viver as agruras pelas quais a mãe passou. Adelaide começou a trabalhar aos 18 anos em um escritório de contabilidade. Logo, casou-se e deixou o emprego. Tempos depois, com a renda de casa apertada, passou a vender produtos de beleza para que não faltasse nada às meninas. ;Felizmente, a vida melhorou, sobretudo depois que todos passaram a trocar os carnês de dívida pela poupança;, frisa.
O motorista de ônibus Francisco Nascimento e Silva, 56 anos, está descrente. Não poupa para a velhice porque não acredita que economizar agora lhe trará frutos mais à frente. A descrença se consolidou nos anos 1980, quando costumava depositar, mensalmente, parte do salário no sistema de poupança Colmeia, que acabou quebrando por má administração. Ele conseguiu sacar o pouco que tinha antes da falência da instituição porque dormiu uma noite na porta de uma agência, assustado com os boatos de que havia alguma coisa errada com a Colmeia. ;Depois disso, nunca mais botei dinheiro em banco;, enfatiza.
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