Paulo Silva Pinto
postado em 12/01/2015 07:08
A economia brasileira tem ficado cada vez mais parecida com a do passado, e não é só pela crescente carestia que se evidencia nos caixas de supermercado. Operações entre o Banco Central (BC) e instituições financeiras trazem muitas lembranças dos tempos de inflação alta, quando era corriqueiro, para qualquer correntista, falar em overnight, as aplicações em que o dinheiro rendia enquanto todos dormiam.Num sinal da volta da famosa ciranda financeira, as chamadas operações compromissadas do BC cresceram de 20% do total dos títulos públicos federais no fim de 2013 para 29% em novembro do ano passado, o dado mais recente disponível. Nessas transações, a autoridade monetária vende títulos aos bancos mediante compromisso de recompra em determinado prazo, que pode variar de alguns dias a meses. Quando se observa um período mais longo, o aumento é ainda impressiona mais (veja quadro ao lado). Passavam pelo balcão do BC somente 2,3% dos títulos públicos federais no fim de 2005. O aumento de lá para cá, portanto, foi de 1.160%.
Embora essas transações nunca tenham deixado de existir, o problema é a proporção que tomaram. Dos ativos de R$ 2,1 trilhões que constam no balancete patrimonial do Banco Central de 30 de novembro passado, R$ 1,03 trilhão são compostos de títulos públicos federais, ou 49% do total, uma aberração para padrões internacionais. No Banco Central Europeu, por exemplo, a proporção é de apenas 0,1%. No caso do Federal Reserve, o Fed, autoridade monetária dos Estados Unidos, ela é mais alta, chegando a 3,7%. No Japão, em patamar bem superior, são 10,3%, ainda assim muito menor do que se vê no Brasil.
O BC explica que atua apenas como agente passivo nas operações. A autoridade monetária precisa evitar que os bancos fiquem com sobra de dinheiro e decidam emprestar com juros baixos, o que derrubaria a Selic para um patamar muito abaixo ao da meta estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), atualmente em 11,75% anuais. Para evitar que isso aconteça, o BC oferece títulos de sua carteira aos bancos, com compromisso de recompra, garantindo a eles uma remuneração maior do que conseguiriam emprestando dinheiro aos clientes. Nos momentos em que falta liquidez no mercado, o que já não acontece há muito tempo, o BC faz o contrário: oferece dinheiro mais barato, evitando que as instituições financeiras recorram ao mercado e que a Selic fique acima da meta.
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