Economia

2015 será ano de bonança no mercado de ações, apontam especialistas

Investidor precisa ficar atento à possibilidade de ganhos a curto e longo prazos

Paulo Silva Pinto
postado em 12/01/2015 15:52
Investir no mercado de ações é sempre arriscado. Para quem sabe o momento de entrar e sair há oportunidades de ganhos significativos, às vezes mantendo o papel apenas por algumas horas. E, mesmo para quem não tem tanto conhecimento do mercado, nem o sangue frio necessário para encarar os perigos, é possível aproveitar a bonança. De preferência, em períodos bem longos. Não meses nem mesmo anos: décadas. O nervosismo dos pregões premia os pacientes, que sabem esperar.

Essas recomendações dos especialistas valem para qualquer momento. Só que estamos em uma daquelas épocas muito difíceis no mercado de capitais. E já não é de hoje. Mas exatamente, por estarmos em um período prolongado de dificuldades, há quem aposte que é chegada a hora da bonança. Dúvidas, porém, rondam os investidores quanto o momento em que será bom entrar comprando ações com força. ;Em 2014, a bolsa foi dominada pelas eleições, o que não se via desde 2002. Mesmo passada essa fase, porém, a política continua a influenciar muito, por conta das investigações de corrupção na Petrobras e suas repercussões. Só por volta do meio do ano poderemos saber se isso estará superado;, diz o economista Felipe Chad, da DXI Planejamento Financeiro.

Leia mais notícias em Economia


O primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foi, de longe, o pior para o mercado de capitais desde o Plano Real, que completou duas décadas em junho. Os primeiros quatro anos de Lula foram a melhor fase desse período, com ganho de 394,7% no Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM). No segundo quadriênio, porém, o ganho foi de apenas 37,6%. Nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, o desempenho variou pouco: 56,9% na primeira metade e 66,1% na segunda. No primeiro mandato de Dilma, o desempenho não ficou apenas aquém da média dos períodos anteriores. Houve queda de 28,52%.

Expectativa
Exatamente por isso, há avaliações de que é chegada a hora da melhora. ;No início de 2014, todos diziam que seria um ano desafiador. E foi. Agora, o que se está dizendo é que 2015 será um ano de oportunidades. Alguns preços já estão em níveis bem interessantes;, avalia Carlos Souza Barros, presidente da corretora que leva o nome da família e começou a operar em 1928, um ano antes da crise que rivaliza com a de 2008 em prejuízo para o mundo. Para Souza Barros, embora o mercado tenha comemorado a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, ainda está na expectativa dos próximos movimentos. A tendência, avalia, será de um movimento de alta quando houver mais clareza de que ele está seguro no cargo.

Há muito a ser feito, porém, para melhorar o ambiente de negócios no país, que prejudica as empresas e, consequentemente, a bolsa. ;O Brasil é um ponto fraco entre os emergentes. Tem problema de inflação, problema de crescimento e problema político. O governo é menos liberalizante do que deveria, é relutante ao liberar forças;, alerta Janwillien Acket, economista-chefe do banco suíço Julius Baer. Segundo o economista, a imagem do país está se deteriorando no mercado internacional. ;A corrupção não ajuda, é veneno para investidores. Seria muito bom para a América do Sul ter uma maior influência positiva do Brasil. A Venezuela e a Argentina hoje são Estados falidos;, pondera.

Muita gente conseguiu ganhar dinheiro nesse ambiente hostil. O bancário Marcus Tercio, por exemplo, teve retorno de 20%, bem superior ao do Ibovespa e ao do rendimento dos juros, que, no caso brasileiro, estão entre os mais altos do mundo. Ele só inclui na conta os papéis que vendeu de fato, fazendo o que se chama, no jargão do mercado, de realizar prejuízo, ou realizar lucro. É só aí que, caso haja ganho, se paga Imposto de Renda.

Tributação
O fato de o papel se desvalorizar não quer dizer nada para o Fisco, e tampouco para a contabilidade de Tercio. Ele espera que o preço desses papéis suba, caso contrário não os manteria. ;Sou um investidor agressivo. Chego a ter 70% do meu capital investido em bolsa;, diz o bancário. Quando vende ações, ele compra letras de crédito imobiliário (LCI) ou letras de crédito do agronegócio (LCA).

O professor e empresário Joel Pontin optou por uma aplicação conservadora, vinculada a títulos da dívida pública, na sua poupança para a aposentadoria. O investimento em ações está concentrado em dois portfólios, um para o filho e outro para a filha, ambos adolescentes. ;É um dinheiro que lhes permitirá passar um ano no exterior estudando, por exemplo, quando forem adultos;, explica. As ações são escolhidas com cuidado: apenas bancos de primeira linha. Pontin observa o mercado todos os dias, e, com uma parte pequena do dinheiro que tem, faz apostas mais ousadas em certos momentos ; por exemplo, quando o preço de mercado de determinada empresa fica abaixo de 75% do valor patrimonial. Nem sempre dá certo. Há alguns meses, ele perdeu dinheiro. Mas apenas o equivalente a uma multa de trânsito.

Para o economista Demetrius Lucindo, da Corretora Planner, há várias oportunidades boas no mercado hoje para quem se dispõe a correr algum risco. A preferida dele é a Vale. ;A Petrobras é uma pequena companhia de petróleo no âmbito mundial. Mas a Vale é uma das líderes na exploração de minério global, junto da Rio Tinto;, comenta. Neste mês, a ação ordinária (com direito a voto) da Vale suviu 2,01%. É possível comprar o papel da empresa diretamente ou o papel da Bradespar, sua controladora.

Risco cambial
Acket, do Julius Baer, destaca que o Brasil está fora da rota dos investidores, entre outras razões pelo risco do câmbio. ;O real é uma das moedas que mais perdeu valor neste ano. E, francamente, não sei se esse movimento acabou. Há um risco de perder ainda mais, e é por isso que é difícil para o investidor estrangeiro entrar agora. Nós não estamos aconselhando ninguém a fazer isso;, disse. Ele recomenda ao investidor brasileiro procurar ativos em outros países.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação