postado em 21/01/2015 09:47
Fernando* não se considera alcoólatra. ;Eu? De jeito nenhum;, responde, convicto. Tem 25 anos e trabalha na área administrativa de um cartório da capital do país. Bebe ; sozinho ou com os amigos ; pelo menos três vezes por semana. Perdeu a conta dos dias em que bateu o ponto virado da farra na noite anterior, de ressaca ou, como ele diz, ;doidão mesmo;. Certa vez, recorda aos risos, dormiu por quase uma hora no chão do banheiro do cartório, abraçado ao vaso sanitário para uso exclusivo de deficientes físicos. ;Ali é mais espaçoso;, justifica.Mesmo sem reconhecer ser dependente do álcool, Fernando percebe os prejuízos da bebida na vida profissional. ;Sinto cansaço no corpo e na mente. Pensar fica mais difícil;, relata. Por mês, o jovem gasta, no mínimo, R$ 500 para ;tomar uma e espairecer;. No dia seguinte, não consegue evitar o cochilo na frente do computador. Diz que vai entregar algum documento, mas, na verdade, passa em casa para descansar no meio do expediente. ;O chefe só não percebe porque é muita gente.;
[SAIBAMAIS]O álcool responde por 50% das ausências no serviço, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Encarado, quase sempre, de forma engraçada ou velada, o alcoolismo mina a produtividade no cartório onde Fernando trabalha e em milhares de empresas e órgãos públicos brasileiros. As consequências vão muito além dos atrasos e das faltas motivadas pela ressaca. O mau uso da bebida, que atinge todos os cargos e níveis, favorece acidentes ; muitos, fatais ; afastamentos por doenças e situações em que o funcionário está presente, mas não usa todo o potencial.
À conta do alcoolismo das empresas somam-se o aumento de gastos com horas extras, o comprometimento da qualidade do produto ou serviço, um maior desperdício de materiais, sem contar os prejuízos nas relações interpessoais. ;Em um mundo cada vez mais competitivo, o alcoolismo provoca prejuízos imensuráveis, afetando a lucratividade das empresas;, sentencia Rita Brum, diretora da Rhaiz Soluções em Recursos Humanos.
Demissões
Cerca de 5% dos que assumem beber com frequência ; um universo de 4,6 milhões de pessoas ; já perderam o emprego no Brasil devido ao consumo exagero de álcool, de acordo com o levantamento mais recente do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A demissão por embriaguez, prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como justa causa, tem sido condenada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), que recomenda o afastamento do trabalhador.
Estudos indicam que o índice de recuperação de alcoólatras quando acompanhados pelas empresas varia de 50% a 70%, enquanto os tratamentos na rede hospitalar registram média de 30%. ;Antes, o auxílio era baseado na ;chefia amiga;, no protecionismo. Hoje, os gestores estão entendendo melhor que um funcionário bêbado não traz lucro e que tratá-lo é importante para a empresa;, sustenta Rita Brum.
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