Antonio Temóteo
postado em 04/02/2015 11:32
Ao mesmo tempo em que desperta a cobiça de políticos, a Petrobras possui um peso enorme na economia brasileira. Maior empresa do país, a estatal responde por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Tamanha é a importância da petroleira para a atividade produtiva que, para cada R$ 1 investido pela companhia, outros R$ 3 são gerados no país. Com essa relevância, analistas acreditam que a redução do plano de negócios da empresa terá impacto direto e significativo na atividade econômica.Nas contas do Itaú Unibanco, o corte de investimentos e a queda na produção de petróleo pela Petrobras exercerão peso negativo de 0,2 ponto percentual no crescimento do país. Estimativas de mercado apontam que uma redução de 10% nos negócios da companhia pode tirar de 0,1 a 0,5 ponto percentual do PIB. Como a mediana das previsões dos economistas, apurada pelo Banco Central, aponta que o Brasil crescerá apenas 0,03% em 2015, mudanças no rumo da petroleira afetarão em cheio o desempenho brasileiro.
Desde 2013, quando abriu os cofres e colocou R$ 104,4 bilhões em obras e projetos, a empresa reduz gastos. O estouro do esquema de corrupção só piorou a situação. A previsão era de investimento de R$ 84,5 bilhões, em 2014, e de R$ 83,4 bilhões, em 2015. O cronograma não deve se confirmar. A presidente da empresa, Graça Foster, já admitiu rever o plano de negócios para adequá-lo à realidade do mercado e aos problemas de caixa.
Prejuízos
O funcionário aposentado da Petrobras e pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) René Rodrigues acredita que, mesmo com todos os prejuízos revelados na Operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal, a empresa pode voltar a gerar riquezas a longo prazo. Na opinião dele, a nova política econômica, que acaba com o controle de preços dos combustíveis, será importante para que a companhia retome o fôlego para honrar compromissos firmados.
Rodrigues lembrou que, com a redução do plano de investimentos da estatal, vários setores da economia serão atingidos, e isso afetará o emprego e a produção de produtos e serviços. Opinião compartilhada pelo diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, para quem a petroleira conseguiu se firmar como a maior empresa brasileira, exercendo um peso enorme na economia nacional. ;As decisões da estatal mexem com o mercado financeiro, com o nível da atividade e do emprego no país;, comentou Pires.
Embalada por uma política que fortaleceu o monopólio do petróleo, a estatal brasileira se transformou em uma gigante mundial do setor, com ações negociadas em bolsas de valores no exterior. ;A Petrobras é um ícone, um objeto de desejo;, afirmou Pires. Não é à toa que a companhia tem o poder de provocar um efeito cascata na economia: se a empresa sofre alguma crise, como a atual, atinge fornecedores, colocando em risco milhares de empregos e de negócios.
A internacionalização da companhia e o fato de diversificar cada vez mais os serviços a tornou ainda mais poderosa. O aumento da produção e toda a expectativa em torno do pré-sal fizeram com que diversos segmentos da economia se atrelassem ao desempenho da estatal, o que explica, em grande parte, a apreensão de investidores e o temor de que o esquema de corrupção na Petrobras tenha reflexos bastante negativos na economia.
Gigante do país
Maior empresa brasileira, a Petrobras tem peso significativo na atividade
; O setor de petróleo e gás é responsável por 13% do Produto Interno Bruto (PIB)
; A cada R$ 1 investido pela petroleira são movimentados outros R$ 3 na economia
; Uma queda de 10% nos investimentos da Petrobras pode tirar entre 0,1 e 0,5 ponto percentual no PIB ao ano
; Dos investimentos no Brasil, correspondentes a 16,5% do PIB, a estatal é responsável por quase um quarto (24,2%) do total
; As importações e exportações da petroleira são os primeiros itens nas pautas de comércio exterior
; Das 109 mil empresas industriais com mais de 0 pessoas ocupadas, 8 mil, ou 7,4%, já forneceram para a estatal
; O número de fornecedores da Petrobras dobrou de 1,8 mil, no fim da década de 1990, para 3,4 mil, em bases anuais
; As empresas que fornecem para a estatal empregam, em média, 535 pessoas, enquanto a média das não fornecedoras é de 176 trabalhadores
; O salário mensal pago pelos fornecedores da petroleira a seus funcionários é 80% maior que a média de mercado
; Os fornecedores da Petrobras são responsáveis por 30,4% das exportações do país e 25,3% das importações. No caso de importações de bens de capital, garantem 35,5% do total