postado em 14/03/2015 11:51
A apreensão com a crise política provocou forte impacto no dólar turismo ontem. A moeda chegou a ser cotada a R$ 3,72 no cartão pré-pago, incluindo o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) de 6,38%. Em espécie, a divisa foi negociada a R$ 3,50 em várias casas de câmbio de Brasília. Para não perder clientes, algumas empresas reduziram o preço a R$ 3,38 para quem comprasse valores acima de US$ 1 mil.Especialistas admitem que não há para onde correr: a moeda usada para as compras no exterior continuará elevada. ;Enquanto o mercado não sentir um cenário econômico de mais estabilidade, a incerteza e a especulação vão provocar novas altas da moeda;, avaliou uma fonte ligada a uma casa de câmbio de Brasília. ;Em um primeiro momento, deve haver uma corrida pela compra do dinheiro em espécie. Os números elevados assustam o brasileiro. Aqueles que têm viagem programada vão se apressar para adquirir dólar. A médio prazo, o câmbio vai gerar redução do volume de vendas da moeda norte-americana;, prevê.
Para quem tem alguma economia, ir à Europa pode sair mais em conta do que viajar para os Estados Unidos. Ontem, o euro atingiu R$ 3,62, mas algumas casas de câmbio aceitaram reduzir o valor para R$ 3,48. O temor de que os negócios encolham, no entanto, levou os operadores a aceitar negociar mais do que o de costume. ;Se o consumidor chorar, é possível conseguir bons preços;, garantiu um operador.
Desafio
O dólar chegou ao patamar mais alto dos últimos 12 anos, o que, para Lúcia Jungmann, proprietária de uma agência de viagem, deixou o quadro atual mais desafiador para os negócios do que em 2002, quando a moeda chegou nos R$ 4. ;A situação da economia como um todo está pior. As incertezas em relação ao futuro deixam o consumidor mais cauteloso;, analisou.
Nas duas últimas semanas, o setor de agências de turismo no Distrito Federal acumulou queda de 20% nas vendas de pacotes. Quem já está com hotel e passagens garantidos não deixará de embarcar para o exterior, mas a intenção agora é alterar os preços das diárias por valores mais baixos, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Distrito Federal (Abav), Carlos Vieira. ;Diante desse cenário, não há muito o que fazer. Só há um consenso: vai piorar.;
Apesar de o gasto com viagens ser considerado ideal para o lazer nas férias, é também o primeiro item a ser cortado do orçamento em períodos de crise econômica, lembrou Vieira. ;Nossa expectativa é de que as pessoas que estão pensando em viajar, mas ainda não tomaram a decisão, mudem o destino e façam viagens com menor número de dias;, disse. Como o dólar tem impacto na inflação, os destinos domésticos também serão afetados. ;Mesmo o consumidor com maior poder aquisitivo certamente reduzirá os gastos com turismo;, acrescentou.
Se a alta da moeda norte-americana já é um vilão para os viajantes, o desaquecimento do mercado de trabalho inibe qualquer expectativa de férias. No caso de Elma Lelis, 40 anos, que está desempregada há um mês, a falta de dinheiro a fez cancelar os planos de passar as férias com a família em Maceió, em junho próximo. ;Teremos que apertar o orçamento e evitar dívidas. Desde que fui dispensada, fiz algumas entrevistas de emprego, mas ainda não obtive nenhuma resposta concreta;, disse. ;Portanto, férias só num futuro melhor.;
Dicas para amenizar o impacto do dólar na sua viagem
; Leve a maior parte dos recursos para a viagem em dólar. Sobre a compra da moeda, incide IOF de 0,38%. Antes de comprar os dólares, compare as cotações e as taxas cobradas por bancos e casas de câmbio. Ontem, a divisa era vendida entre R$ 3,10 e R$ 3,36
; Não é necessário adquirir todo o montante em dólar de uma vez. Divida a compra do papel-moeda, indo semanalmente às casas de câmbio ou aos bancos. Como os preços variam muito, na média, a cotação será menor.
; Parte dos recursos para a viagem pode ser colocada num cartão pré-pago, sempre uma boa opção para quem deseja evitar dores de cabeça no recebimento da fatura do cartão de crédito.
; O IOF é o mesmo nas duas modalidades: 6,38%. Mas, no cartão pré-pago, tudo é à vista. No crédito, há a variação cambial entre o dia do gasto e a data de pagamento. Pode ser uma pancada.
; Quem vai comprar pacote deve dar preferência às agências que oferecem desconto. Na hora de definir a hospedagem, escolha os quartos mais baratos, desde que a qualidade não caia muito.
; Faça uma programação prévia da viagem e dispense gastos excessivos. Na hora das compras, pesquise preços dos produtos desejados no Brasil e no exterior e veja se realmente vale a pena trazer algo de fora.
; Se a viagem já está programada, é importante manter o controle, e não se desesperar. Contenha os gastos e prepare uma reserva de 40% a mais dos valores que tinha planejado para evitar problemas futuros.
; Caso tenha a intenção de viajar para o exterior nos próximos meses, mas ainda não se planejou, deixe para depois. Opte por viagens nacionais ou por países da América do Sul, mais baratos.
; Não transforme a viagem dos sonhos em dor de cabeça. Faça e refaça as contas. Confira se, realmente, com o dólar mais caro, esse é o momento ideal para embarcar. Se for possível adiar, poupe ao longo de um ano para não cair na armadilha das dívidas. Os juros também estão altos demais.