Economia

Inflação em alta começa a ter efeito sobre o comércio, dizem especialistas

Economista da Fecomércio afirma que a alta do dólar já se insere no contexto de elevação de preços

postado em 17/03/2015 19:50
A inflação, que em fevereiro mostrou taxa de 7,7% no acumulado de 12 meses, começa a ter efeitos sobre o comércio. Essa é a análise do gerente de Economia da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Christian Travassos, que prevê impacto na manutenção dos empregos. Ele acredita que a alta é um alerta, pois, em 2013 e 2014, quando a situação econômica afetou mais fortemente a indústria e a agropecuária, o comércio conseguia respirar em função de uma massa salarial elevada e desemprego baixo.

Em 2012, o comércio brasileiro cresceu 8%; em 2013, 4% e, no ano passado, 2,2%. Como em 2015 não há mais esses dois elementos que mantinham o comércio sem tantas influências (massa salarial alta e desemprego em baixa), a expectativa de Travassos é que não haja crescimento. ;Ou [ocorra] até uma pequena queda, mas com frutos a serem colhidos a partir de 2016;, disse o economista da Fecomércio-RJ.

Ele explica que a alta do dólar já se insere no contexto de elevação de preços. O aumento vem em conjunto com outras pressões na inflação, ao lado da energia, dos combustíveis, dos preços de serviços e da alimentação. ;É mais um componente para a gente inserir nesse cenário;, acrescenta, ao destacar que o problema atinge empresários e consumidores e que a situação é mais difícil para as micro e pequenas empresas.

Responsável por uma microempresa de móveis e decoração na Lapa, Silvana Dias disse que a inflação influencia negativamente os negócios. ;As vendas caíram muito, mais ou menos 70%. Todos os dias tinha venda e agora tem dia em que não vendemos nada;. Ela prefere, entretanto, manter o otimismo. ;Penso que vai melhorar.;

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Igor Souza, gerente de uma microempresa de descartáveis e material de limpeza no centro do Rio, avaliou que a situação é complicada. ;As vendas caíram bastante. Muitas lojas estão fechando na região. Se continuar desse jeito, não vai dar para trabalhar mais;, completou.

Na avaliação do presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Aylton Fornari, o comportamento da inflação impacta no setor porque qualquer alta influencia parte da classe B e as classes C e D, que constituem grande fatia da clientela dos supermercados. ;As pessoas começam a consumir alimentos com mais racionalidade e eliminam os supérfluos. Isso é preocupante, porque acaba diminuindo nossas vendas;. A estimativa é que as vendas do setor supermercadista fluminense em 2014 tenham aumento real, isto é, descontada a inflação, em torno de 2,5% a 3%, em relação a 2013. Os números ainda estão sendo fechados. Fornari acredita que será difícil repetir o índice em 2015.

O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), acredita que o impacto do aumento da energia vá começar a ser sentido no primeiro trimestre e prevê que, até o fim do ano, a inflação vá chegar a 8% em 2015. Em 2014, o índice ficou em 6,4%. Também influenciarão o índice, na opinião de André Braz, a introdução da bandeira tarifária nas contas de energia, o aumento no valor das passagens de ônibus urbanos, das mensalidades escolares e da gasolina. ;Em março, agora, a gente vai ter de novo o impacto da energia, por causa dos aumentos que passaram a vigorar;.

Ele ressaltou que não se deve esperar também queda significativa dos preços dos alimentos este ano. Mesmo que haja safras boas de arroz e feijão, que afetam mais a cesta básica do consumidor, isso não deve garantir recuo dos preços, como ocorreu em 2014. Outro fator que contribuirá para a expansão da inflação é o setor de serviços livres, como alimentação fora de casa, salão de beleza, estacionamento, médicos, lavagem de carro, cujos preços não param de subir e acumulam alta acima da inflação média de quase 9% em 12 meses.

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