Simone Kafruni, Enviada Especial
postado em 16/04/2015 11:36
Madrid, Espanha - Com o combustível e o dólar em alta e a redução do poder aquisitivo da população por conta da inflação galopante no país, as companhias aéreas brasileiras devem estar projetando redução nas receitas este ano. Para enfrentar a turbulência, talvez possam se inspirar no caso da Iberia, empresa de aviação comercial que saiu de um prejuízo de 351 milhões de euros em 2012 para um lucro de 51 milhões de euros, mesmo sediada na Espanha, país que ainda sente os efeitos da mais grave crise econômica de sua história recente.
Para os executivos da Iberia, apesar de o Brasil também estar mergulhado numa recessão, o mercado do país é atraente. Tanto que os principais dirigentes da companhia estarão em São Paulo na semana que vem para reforçar uma campanha de marketing que pretende melhorar a imagem da empresa. O objetivo é conquistar a preferência dos brasileiros na hora de viajar para Europa e alavancar a participação no mercado. A crise econômica brasileira não preocupa os executivos. ;Estamos na Espanha, somos solidários sobre o assunto;, brincou o diretor comercial da Iberia, Marco Sansavini.
[SAIBAMAIS]Presente como uma das principais patrocinadoras do congresso mundial de turismo World Travel and Tourism Council (WTTC 2015), realizado em Madrid, a Iberia aposta na eficácia do seu modelo de restruturação para continuar crescendo, sobretudo na ligação Europa-América Latina, na qual é líder de mercado. Atualmente com dois voos diários São Paulo-Madrid e um, também diário, Rio-Madrid, a companhia vem estudar o mercado brasileiro para avaliar as possibilidades de ampliar frequências e rotas. ;Acreditamos que a população não conhece bem a nossa empresa. Por isso lançamos uma campanha há duas semanas e estaremos em São Paulo na semana que vem para reforçar nossa imagem;, contou Sansavini, durante coletiva de imprensa no WTTC.
Com uma receita de 4,86 bilhões de euros e 16,7 mil funcionários em todo o mundo, a Iberia amargava resultados negativos desde 2008, ano da crise mundial. Precisou promover um enxugamento para se manter no mercado. A restruturação cortou 15% dos voos e reduziu os salários dos empregados, a partir de um acordo trabalhista que no Brasil, por exemplo, não seria possível. ;Para não cortar empregos oepracionais, negociamos diminuir salários;, explicou Sansavini. De 76 voos de médias e curtas distâncias, a companhia manteve 56. E dos 33 voos de longa distância, passou a operar 28. ;Isso e o corte 50% da parte administrativa permitiu redução de 126 milhões de euros nos custos;, disse o diretor comercial da Iberia.
O reposicionamento no mercado surtiu efeito. Em 2013, o prejuízo caiu para 166 milhões de euros. E, no ano passado, houve lucro de 51 milhões de euros. ;Simplificamos e flexibilizamos a companhia, mantendo as bases sólidas. Mudamos a marca e, pouco a pouco, apagamos a impressão que os clientes tinham de uma companhia que apenas lutava para se manter viva;, afirmou Sansavini. O aumento da pontualidade, que era de 62% em 2011, para 92% no ano passado, o que a coloca como a empresa aérea mais pontual do mundo, ajudou a reconstrução da imagem da Iberia.
De 2013 para 2015, a Iberia recuperou 8% dos voos que havia cortado. Atualmente opera 124 voos para a América Latina, o que representa 53% das suas operações, e conseguiu crescer 4,7% no mercado, ante crescimentos de 3,4% nos voos para os Estados Unidos e 3,5% nos voos domésticos da Espanha. Mundialmente, o crescimento foi de 8%. Nos planos da companhia, além de apostar no Brasil, estão a renovação da frota, com a compra de oito aeronaves Airbus A330-300 entre 2013 e 2014, outros oito aviões A 330-200 entre 2015 e 2016. E mais oito A350-900 entre 2018 e 2020.
* A repórter viajou a convite do WTTC