Economia

Chineses querem ampliar rede de negócios em território brasileiro

Embaixador Sergio Amaral, do CEBC, conta que os setores financeiro e de construção estão entre os destaques para receber capital chinês

Rosana Hessel
postado em 18/05/2015 21:00
A visita oficial ao Brasil do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, será um marco para as relações entre os dois países, na avaliação do embaixador Sergio Amaral, presidente Emérito do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), uma vez que o gigante asiático está bastante interessado em fazer negócios em território brasileiro em diferentes áreas. ;Temos uma espécie de ;turning point;, momento de inflexão, onde a presença chinesa era mais pontual e há um deslocamento do foco das reuniões anteriores que eram mais focados em infraestrutura e agronegócio. Hoje há dois setores com muita força: financeiro e construção;, disse.

Amaral destacou que na comitiva que chega nesta segunda-feira (18/05) para acompanhar a visita do premier chinês há cerca de 200 empresários. Entre eles, destacam-se representantes de seis importantes bancos chineses, como o China Development Bank (CDB), a maior instituição financeira de desenvolvimento do mundo com um patrimônio de US$ 1,6 trilhão. Ele lembrou que o Bank of Comunications (Bocom), um dos mais antigos do país asiático, que tem interesse em se instalar no país. A instituição vem negociando a compra do BBM, um dos mais antigos bancos privados do país. Executivos das duas instituições estiveram hoje à tarde reunidos por quase uma hora com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em seu gabinete. Na saída do Prédio P da Esplanada dos Ministérios, evitaram comentar o assunto da conversa. Amaral também evitou comentar o assunto. ;Não quero adiantar nada;, disse ele em entrevista coletiva.

De acordo com o diplomata, as construtoras chinesas estão de olho no mercado brasileiro, sobretudo na área de ferrovias. E, nesse sentido o projeto da ferrovia Transoceânica é considerado o mais importante, pois vai criar um acesso para os produtos brasileiros para o Oceano Pacífico, via o Peru. O diretor do BRIC-Lab da Columbia University, Marcos Troyjo, acredita que os investimentos chineses no Brasil tendem a aumentar não somente pelos interesses que os chineses têm no mercado brasileiro, mas por conta da oportunidade da desvalorização do real frente ao dólar nos últimos meses. ;Os ativos brasileiros estão baratos por conta do câmbio e a tendência é que haja uma onda de compras de empresas brasileiras já instituídas e atuam em setores como agricultura, produção de sementes, fertilizantes, infraestrutura e logística;, apostou. Na semana passada, o Correio publicou uma matéria informando que os chineses estão interessados em comprar construtoras brasileiras envolvidas na Operação Lava-Jato e que atravessam dificuldades financeiras. Duas delas encabeçam a lista: Engevix e OAS.

O embaixador destacou que há uma grande diversidade de empresários vindo ao Brasil na comitiva organizada pelo governo chinês. ;Ao contrário do que acontecia no início, 25% das empresas que estão vindo ao Brasil são privadas. Elas têm um processo de decisão mais autônomo e estão em busca de parcerias. Esse é um novo capítulo das relações bilaterais;, afirmou Amaral citando as obras no Metrô de São Paulo como uma das futuras parcerias entre os dois países.

O CEBC foi convidado para organizar a Cúpula Empresarial Brasil-China que acontece amanhã, à partir das 9h30, no Palácio do Itamaraty. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Li Keqiang, participarão do encerramento do encontro que terá um almoço com as duas autoridades. Depois do almoço, premier terá encontros com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nos dias 20 e 21, a agenda será no Rio de Janeiro.

A visita de Li ocorre menos de um ano depois da visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, em julho de 2014, quando foram assinados cerca de 50 acordos de cooperação. O governo brasileiro pretende anunciar um pacote de US$ 53,3 bilhões de investimentos chineses no país, no entanto, uma parte dos projetos já está em execução.

O país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2014, as trocas comerciais bilaterais alcançaram US$ 77,9 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 3,3 bilhões. No entanto, o fluxo inverteu este ano. As exportações despencaram mais de 30% de janeiro a abril, na comparação com o mesmo período de 2014, e o saldo atual está negativo para o Brasil em US$ 2,5 bilhões.

Depois do Brasil, o premier chinês deve fazer uma turnês por vários países latino-americanos. Colômbia, Chile e Peru estão entre os próximos destinos de Li e sua comitiva.

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