Economia

Para o presidente do TRT, terceirização deve se debatida, mas com cuidados

André Damasceno afirma que o sistema proposto não retira especificamente direitos dos trabalhadores. Mas precariza a situação dentro das empresas

Vera Batista
postado em 08/06/2015 10:49
O Projeto de Lei 4.330/2004, que permite a terceirização da mão de obra nas atividades-fim das empresas é uma das mais polêmicas entre as propostas surgidas em meio à conturbada situação econômica do país. As discussões sobre o assunto são benvindas para sanar deturpações, na análise do desembargador André Damasceno, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 10; Região (TRT-DF/TO). Mas a matéria retratada no projeto que tramita no Congresso Nacional é um perigo para o lado mais fraco e necessitará de profundas modificações. Da forma como está, vai prejudicar os trabalhadores, diz ele.

;A terceirização não é novidade. É antiga, e com muitas distorções. O sistema proposto não retira especificamente direitos dos trabalhadores. Mas precariza a situação dentro das empresas. Quem é empregado fica sem ter a quem recorrer;, afirma Damasceno, citando, como exemplo. a situação ;surreal; de um hospital em Brasília sem sequer um funcionário com carteira assinada. No Distrito Federal, revelou, mais relevantes são as ações civis públicas de acidentes de trabalho. ;É espantoso o número de processos por problemas psicológicos e assédio moral;, disse. Damasceno criticou também a ;juvenilização da magistratura; ; jovens juízes sem experiência. ;Saem da mesada do pai diretamente para julgar a vida dos outros. Julgam com técnica, mas sem sensibilidade.;




[SAIBAMAIS]Os trabalhadores reclamam que a terceirização vai retirar direitos. Qual a sua análise sobre o assunto?
A terceirização não é novidade. É antiga, e com muitas distorções. O sistema proposto não retira especificamente direitos. Mas precariza a situação dentro das empresas. O empregado fica sem ter a quem recorrer. Vejo em Brasília prestadoras de serviço que, quando são substituídas, quebram. A empresa que entra admite a mesma mão de obra. Porém, o direito a férias fica prejudicado. Teoricamente, as férias são da responsabilidade da empresa anterior. E, mesmo quando o pagamento é feito ; em alguns casos, é transferido ao órgão contratante ;, não há gozo do período de descanso. O trabalhador não para porque teme perder a vaga na nova empresa.

O que representará a terceirização para as empresas?
A otimização de custos. Dispensará um investimento imenso em empregados. O que acaba sendo um retrocesso e cria, às vezes, situação surreal, como a de um hospital em Brasília que não tinha um só funcionário com carteira assinada. Médicos e enfermeiros eram cooperados. Outro problema é a transformação de funcionário em pessoa jurídica, uma maneira de burlar a legislação. Agora, é necessário que se estabeleça o debate. Discordo de alguns itens, como a terceirização até da atividade-fim. Isso é perigoso.



O PL 4.330 aumentará o número de litígios?
É possível. Mas, em Brasília, mais relevantes do que a terceirização são as ações civis públicas em relação a acidentes de trabalho, ou doenças ocupacionais, como LER (Lesão por Esforço Repetitivo), e o espantoso número de processos por problemas psicológicos, como depressão, e também por assédio moral.

As causas por assédio cresceram muito nos últimos tempos?
Assédio é difícil de julgar, principalmente pelo silêncio e pela vergonha da vítima. E quando ela chega a um tribunal, na hora de falar, pode se tornar agressiva. Em metade delas, percebe-se que há alguém forçando a barra para tentar uma indenização. É importante destacar que há nuances. A cobrança exagerada, a perseguição e o isolamento, podem configurar assédio. Desde que seja na pessoa. Não existe assédio se a cobrança é feita à equipe, mesmo que de forma grosseira.

A dificuldade do tema exige, então, juízes bem experientes?
O grande problema hoje é a juvenilização da magistratura. Magistrados muito jovens. Passei no concurso aos 24 anos, mas já trabalhava. Hoje, saem diretamente da mesada do pai para julgar a vida dos outros. Os magistrados não têm vivência. Julgam com técnica, mas sem sensibilidade.

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