Francisco Júnior
postado em 27/06/2015 18:38
A recusa dos ministros da zona do euro de prolongar o resgate à Grécia coloca o Banco Central Europeu (BCE) no olho do furacão, por ser o único órgão que pode evitar a quebra do país. Para isso, contudo, o BCE teria de violar suas próprias regras.Faça o que fizer, é o futuro do bloco monetário que está em jogo: abandonando a Grécia, a instituição monetária de Frankfurt lança um socorro a seus bancos e ao mesmo tempo a toda a economia, precipitando a "Grexit", saída do país da união monetária. Então, terá de administrar as consequências e conter os riscos de contágio.
Com a ajuda aos bancos, o BCE violaria, suas próprias regras, embora seu presidente Mario Draghi goste de repetir que se trata de "uma instituição baseada em suas regras". Para alguns, isso significaria o começo do fim da zona do euro.
Draghi, que tentou se manter afastado do fogo cruzado entre Atenas e seus credores, agora se encontra sob holofotes, posição que buscava evitar. Pedindo aos políticos que assumam suas responsabilidades, quer se limitar ao papel de executor das decisões tomadas.
"A saída ou não da Grécia da zona do euro agora depende do BCE. Que enorme responsabilidade para alguém não eleito", comentou no Twitter o economista Paul de Grauwe, da Universidade de Lovaina, na Bélgica.
Reunião do Conselho
O Conselho de Governadores do BCE se reunirá "no tempo certo (domingo de manhã de acordo com várias fontes) para discutir a situação", informou um breve comunicado da instituição neste sábado, depois que os ministros de Economia da zona do euro reunidos em Bruxelas transmitiram à Grécia a rejeição da sua última aposta.
O governo de Alexis Tsipras solicitou o prazo de alguns dias para o programa de ajuda em curso, que expira em 30 de junho, para poder organizar um referendo em seu país.
O Conselho de Governadores, que reúne os seis membros da direção do BCE e 19 governadores dos Bancos Centrais da zona do euro, manteve nos últimos meses uma rede de segurança para amortecer o sistema bancário grego, através de empréstimos de emergência. Esses empréstimos são aprovados pelos governadores, que fixam um teto - atualmente de 90 bilhões de euros.
Nesses últimos dias, em um contexto de incerteza crescente, os gregos sacaram suas economias, motivo pelo qual os governadores foram diariamente chamados a se pronunciar sobre a prolongação desse mecanismo. Draghi sempre insistiu em que a concessão desses empréstimos, conhecidos como ELA, deveria obedecer a duas regras rígidas: a existência de um programa de ajuda e a solvência dos bancos.
Condições não reunidas
Nenhuma das duas condições parece se sustentar a partir deste sábado. Os bancos gregos sofrem retiradas maciças de recursos, de modo que a solvência não está garantida.
Alguns dos membros do Conselho - entre eles o presidente do Bundesbank alemão, Jens Weidmann - já haviam se mostrado contrários a conceder empréstimos ELA, inclusive antes da reviravolta dos acontecimentos das últimas 48 horas.
Animados, entretanto, pela esperança de acordo entre Atenas e seus credores, muitos de seus colegas superaram suas próprias reservas.
Se, no domingo, cortarem o financiamento aos bancos, ao mesmo tempo terão de decidir sobre os meios para enfrentar as consequências da saída quase inevitável da Grécia da zona do euro.
Para evitar que as taxas de empréstimo disparem, o BCE poderia, por exemplo, fortalecer um pouco a "QE", seu programa de compra de títulos cuidadosamente calibrado e já em curso. Concretamente, isso significaria comprar ainda mais dívida, sobretudo, porque a Justiça europeia acaba de autorizar seu precedente programa de entregas de liquidez.