Agência France-Presse
postado em 27/06/2015 19:00
A zona do euro começou neste sábado (27/6) a se blindar diante da irreversível moratória de Atenas e de sua eventual saída da zona do euro, após rejeitar a prorrogação do programa de resgate pedido pelo governo grego, que anunciou um referendo sobre as propostas de seus credores."O programa de ajuda expira na terça-feira à noite", disse o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, em coletiva de imprensa depois de uma reunião de mais de três horas dos ministros da Economia da união monetária - a quinta reunião organizada pela Grécia em menos de dez dias.
Essa foi a resposta dos ministros da Economia da Eurozona ao colega grego, Yanis Varoufakis, que pediu a extensão de mais alguns dias, ou semanas, do programa de resgate. O objetivo seria poder realizar, em condições minimamente normais, o referendo anunciado para 5 de julho sobre a oferta dos credores.
Na próxima terça-feira (30/6) vence o prazo de Atenas para pagar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) uma dívida de 1,5 bilhão de euros. O país poderá entrar em moratória, caso esse pagamento não seja efetuado.
[SAIBAMAIS]Segundo um documento vazado na sexta-feira, os credores - União Europeia (UE) e FMI - propuseram prolongar por cinco meses o atual plano de resgate, emprestando à Grécia 15,5 bilhões de euros (12 bilhões do lado europeu, e 3,5 bilhões do FMI) em troca do cumprimento progressivo de uma série de reformas e ajustes.
O governo grego recusou a oferta por achar que o prazo de extensão e de financiamento oferecidos são muito curtos. E acrescentou que as condições impostas na área fiscal e na de aposentadorias, entre outros, são "medidas recessivas e socialmente destrutivas".
"Infelizmente, apesar dos esforços em todos os níveis e do apoio pleno e total do Eurogrupo, essa proposta foi rejeitada pelas autoridades gregas que romperam as negociações unilateralmente na sexta-feira à noite", afirma o comunicado do Eurogrupo, que não foi referendado pelo ministro grego.
Grécia mantém referendo
Dijsselbloem afirmou que os ministros da zona do euro se reuniriam após a coletiva de imprensa, sem Varoufakis, para "avaliar as consequências" e "preparar o que for necessário para garantir a estabilidade da zona do euro".
"A rejeição à extensão certamente prejudicará a credibilidade do Eurogrupo como união democrática. Temo que o dano seja permanente", disse Yanis Varoufakis à imprensa. "Nós esperamos que, até terça-feira, haja acordo. E, nesse momento, diremos ao povo grego que vote ;sim;", explicou.
Varoufakis negou que o referendo se transformará em uma votação em favor, ou contra, a permanência na Eurozona. "Qualquer pergunta ao povo da Grécia do tipo ;euro ou saída do euro; violaria todo o tratado fundamental da União Europeia", explicou, acrescentando que não existem atualmente regulamentos para sair da moeda única.
Em Atenas, o chefe de Governo grego, Alexis Tsipras, falou por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande. "Tsipras ressaltou que o referendo será realizado, seja qual for a decisão do Eurogrupo", informou uma fonte de Atenas à AFP.
Em meio à confusão, os deputados gregos discutiram durante todo o dia sobre a possibilidade de realizar o referendo. A votação final sobre o tema, em que a vitória do governo (que conta com 162 deputados de um total de 300) parece segura, deve ser concluída depois da meia-noite do horário local (18h em Brasília).
Pânico de contágio
"Não vejo risco de contágio, porque estamos muito mais preparados do que no passado", garantiu o ministro finlandês Alex Stubb. "Não temo pelo euro", completou seu colega irlandês Michael Noonan.
O ministro alemão foi mais preciso. "Temos consciência de que devemos fazer de tudo para lutar contra o risco de contágio", disse Wolfgang Sch;uble.
Além da moratória pela dívida com o FMI, o medo é que os bancos gregos, que se beneficiam há meses do socorro do BCE através de uma linha de créditos de emergência (ELA), tenham de enfrentar uma corrida bancária.
Segundo a imprensa grega, os depósitos nos bancos gregos caíram em 6 bilhões de euros nos últimos dias. Entre dezembro, data em que foi anunciado o processo eleitoral que levou o Syriza ao poder, e maio, os depósitos caíram 35 bilhões de euros, segundo dados do Banco da Grécia.
Neste sábado, no centro de Atenas, era possível ver pequenos grupos, de entre três e dez pessoas, fazendo filas nos caixas automáticos. Na segunda maior cidade da Grécia, Tessalônica (norte), alguns bancos ficaram sem dinheiro, constatou um repórter da AFP. Em uma agência do Banco Nacional, havia uma fila de 50 pessoas. "Há muito medo em relação ao que vai acontecer", disse Nikos, de 42 anos, funcionário de uma empresa privada.