Jornal Correio Braziliense

Economia

Governo quer jogar opinião pública contra o funcionalismo, diz Sindjus

Projeto que reajusta salários está aguardando sanção da presidente da República

Os servidores do Judiciário prometem uma pressão ainda maior, inclusive com radicalização dos atos de protesto, para convencer a presidente Dilma Rousseff a sancionar o projeto (PLC 28/2015), aprovado pelo Senado Federal. O documento autoriza, segundo o Ministério do Planejamento (MP), reajustes entre 53% e 78%, com impacto no Orçamento de R$ 25,7 bilhões - R$ 10,5 bilhões já em 2015. De acordo com Jailton Assis, ex-coordenador-geral do sindicato da categoria (Sindjus/DF, atualmente no Conselho Fiscal da entidade), os cálculos do governo são tendenciosos, para jogar a opinião pública contra o funcionalismo.

;Não podemos permitir que uma injustiça seja consolidada. O Planejamento faz as contas considerando toda a folha de salários, o que não é correto. Se o salário de uma doméstica sobe em R$ 50, a patroa tem que considerar no orçamento esse valor adicional como despesa e não o total, porque ali está incluído o que ela já paga à empregada. É esse o erro. O governo está apontando quanto custa a despesa anual, para confundir;, explicou. Outro item de divergência é o discurso sindical de que os trabalhadores estão há nove anos sem aumento. As tabelas do MPOG ndicam ganhos reais acima da inflação no período.

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[SAIBAMAIS]Jailton Assis mostrou o próprio contracheque para provar que, além de não ter ganho a mais um centavo sequer entre 2000 a 2012, as cifras apontadas se referem a perdas anteriores do poder aquisitivo. Ou seja, em 2006, 2007 e 2008, o aumento veio para compensar a inflação passada. ;Como o governo não tinha condições de pagar tudo de uma só vez, dividiu em parcelas. Não pode considerar, portanto, novas dívidas como pagas;, assinalou. A folha total do Judiciário, disse, é de cerca de R$ 28 bilhões por ano. Os R$ 10,5 bilhão representam um-terço. ;É simples aritimética. Se o valor total fosse mesmo R$ 27,5 bilhões, praticamente dobraríamos o custo. Não é assim que funciona;, denunciou.

Fórmula injusta
Jailton Assis, do Conselho Fiscal do Sindjus/DF, fez questão de frisar que, ao longo do governo Lula, as carreiras da administração pública eram tratadas pelas suas especificidades. Já na gestão da presidente Dilma, ;a fórmula de reajuste é injusta;, pois, para conter o impacto na folha, concede apenas reajustes lineares. Além disso, o Judiciário tem orçamento próprio, em torno de R$ 3 bilhões anuais ; cobrança de custas processuais - que contribuem para o caixa da União e podem reduzir o suposto rombo. E também, por lei, o Judiciário pode usar até 6% do orçamento federal. Hoje, esse percentual está em pouco mais de 3%.

Apesar dos argumentos de Assis, estudo feito por técnicos do Senado, a pedido de parlamentares da situação, acusam que pelo menos três tribunais ; inclusive o TJDFT - vão ultrapassar as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) se o aumento aprovado de até 78% passar no crivo do Palácio do Planalto. ;O que o consultor do Senado não levou em consideração foi a previsão que consta na lei de racionalizar cargos e comissões, extinguinto funções que o servidor não leva na aposentadoria;, justificou.

De acordo com o líder sindical, o reajuste real nos salários dos servidores ficará em torno de 35%, porque só recai no vencimento básico e não nas funções comissionadas. Ganharão 78% carreiras dos níveis auxiliares, em fase de extinção. Outra falácia, disse, é a justificativa de que o pessoal do Judiciário ganha muito mais que o do Executivo. Segundo Assis, a comparação é entre carreiras com níveis diferentes de especialização ;Agora foi autorizado concurso para gestor do MPOG, com salário incial de R$ 15 mil, acima até do que ganha um analista em fim de carreira;, contou.

Assis contestou, ainda, a alegação de que a responsabilidade de um gestor é superior à de um analista judiciário, pois os primeiros, entre outros itens, assinam o que produzem, enquanto os analistas, embora de nível superior, pertencem a carreiras de auxiliares. Ele garante que o grau de complexidade é praticamente o mesmo entre os Poderes. ;Os analistas fazem despachos, processos e sentenças, sob a supervisão do magistrado, é claro. Até porque, com o número imenso de processos, seria impossível um juiz dar conta de todos. Falta, apenas, a lei reconhecer o analista nessas funcões. Muitos são formados. Apenas não podem advogar. Nossa função é muito mais complexa do que o governo admite;, destacou.

Jailton Assis afirmou que os servidores têm esperança de que a presidente Dilma sancione o aumento, na íntegra, mesmo diante de um ano complicado de ajuste fiscal em curso, em que os técnicos do mercado desaconselham qualquer despesa extra. Em caso de veto, vai ser difícil conter a indignação da categoria. ;Tudo está claro na lei. Se não puder ser agora, em 2015, podemos aguardar até 2016, quando a situação geral do país estará bem melhor.O Sindjus vai levar o assunto à apreciação dos servidores. E tenho certeza de que a luta pela derrubada do veto será ainda mais intenso. O movimento ;Sanciona Dilma; está a pleno vapor;. Confira a entrevista abaixo:

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