Economia

Mesmo com incentivos dados pelo governo, produção da indústria recua

No primeiro semestre, retração em relação ao mesmo período de 2014 alcança 6,3% - a maior desde 2009. Só dois dos 26 segmentos têm números positivos

Paulo Silva Pinto
postado em 05/08/2015 06:10

Os brasileiros estão acostumados com crise. Mas esta que o país atravessa consegue surpreender. Em junho, a produção industrial do país caiu 3,2% em relação ao mesmo mês de 2014, a 16; redução seguida, algo inédito. ;É a maior sequência de quedas já registrada. Só entre 2009 e 2011 estivemos perto disso, mas não se chegou a tanto;, disse André Luiz Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a junho, a redução acumulada é de 6,3%, o pior resultado semestral desde 2009.

E o que chama a atenção dos especialistas é a disseminação dos números negativos, que afetam 24 dos 26 segmentos em que a produção se divide. Com estoques altos, as indústrias de máquinas e de automóveis são especialmente afetadas: tiveram queda de, respectivamente, 14,2% e 10,7% na comparação com o ano passado (veja quadro ao lado). ;As maiores dificuldades para concessão de crédito e a baixa confiança, tanto dos empresários quanto dos consumidores, afetam especialmente esses setores. E não há perspectiva de uma retomada;, analisou Macedo. Os fabricantes de máquinas oferecem ao mercado os chamados bens de capital, que permitem a outras empresas produzir mais e melhor. Se elas não encontram demanda para o que fazem, é sinal de que ninguém vê sinais de crescimento no horizonte.

Em relação a maio, a queda da produção industrial em junho foi menor, de 0,3% ; o mercado esperava redução de 0,7%. Mas houve ajuda do calendário: o mês teve um dia útil a mais neste ano do que em 2014. Só que esse detalhe torna a comparação anual ainda mais dramática: se, mesmo com a Copa e o calendário, se produziu em junho de 2014, mais do que neste ano, é porque a deterioração foi grande. ;O resultado de julho deverá vir bem pior;, afirmou Paulo Gala, gestor da administradora de recursos Fator.

Para o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências, a situação vai continuar ruim por muito tempo. ;Não conseguimos ver nada que possa reverter a situação;, afirmou. Ele previa queda de 5% na atividade industrial neste ano. Mas, por conta dos números de ontem e de outras informações, está revisando a projeção para baixo e acredita que o tombo chegará perto de 7%. O estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) também será revisada para menos do que a atual, de 1,5%, talvez para 2,5%. E, no ano que vem, a expectativa de ligeira alta provavelmente dará lugar à de estagnação.

Exportações

O setor acumula resultados negativos apesar dos incentivos concedidos pelo governo, incluindo empréstimos subsidiados e a desoneração da folha de salários, um benefício que o governo quer reduzir por meio de projeto em tramitação no Congresso. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, avisou ontem que não haverá novo socorro. Não que se conte seriamente com isso. ;Com a situação fiscal do jeito que está, com queda na arrecadação, não há o menor espaço para novos subsídios;, analisou Gala, da Fator.

Ainda assim, ele espera que a produção industrial se recupere no próximo ano, por conta da desvalorização do real frente ao dólar. ;As exportações começam a ficar mais competitivas, com menor peso do salário em dólar para a indústria brasileira;, explicou Gala. ;Com a divisa a R$ 2,50, não há subsídio que resolva o problema e permita aos produtos brasileiros ganharem mercado no exterior. Com o dólar a R$ 3,50, não é necessário qualquer subsídio para conseguir isso;, disse.

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