O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, destacou nesta quarta (19/8) a importância de as empresas recuperarem sua lucratividade, já que a queda verificada nos últimos meses acaba prejudicando os investimentos. Nesse sentido, Levy afirmou que alguns setores já têm sentido uma melhora, principalmente naqueles relacionados a tradables, diante do comportamento do câmbio. A intenção, porém, é acelerar esse processo com ganhos de competitividade a partir de investimentos em infraestrutura.
"É muito importante que todas as empresas do Brasil possam recuperar lucratividade. Houve queda na lucratividade, e o investimento acaba prejudicado, por mais que se dê crédito e incentivos", afirmou Levy.
Segundo o ministro, em encontro recente com empresários em São Paulo, alguns disseram que não têm conseguido responder à demanda que o novo câmbio está gerando. "Nossa economia, apesar de alguma rigidez, consegue mobilizar recursos de um setor para o outro. É um processo que tem algumas fricções, nossa conta corrente está começando a se equilibrar, nossa balança comercial começa a ter uma inflexão", disse Levy.
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A recuperação da lucratividade das empresas, disse o ministro, se dará também em relação ao mercado doméstico, à medida que o dólar mais caro inibe importações. "Na hora em que o preço se ajusta, vamos ver as empresas brasileiras sendo mais competitivas dentro do Brasil", afirmou.
Nesse sentido, o governo pretende acelerar o processo de ganho de competitividade com a nova rodada do Programa de Investimentos em Logística (PIL). "O Edinho (Araújo, ministro-chefe da Secretaria de Portos, presente ao evento) tem feito uma romaria no TCU querendo destravar o processo de infraestrutura. É indispensável para baixar o custo das empresas para elas terem mais competitividade não só pelo câmbio", afirmou.
Realismo fiscal
Levy afirmou também que sem realismo fiscal, o trabalho dos empresários e dos investidores fica prejudicado. "É um fator fundamental ter confiança fiscal. Tem muita coisa que dá para fazer com capital privado", disse o ministro em discurso no 34; Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), no Rio. O governo, porém, se mostra otimista com a melhora da situação.
"Se não houver realismo no tratamento das despesas e o cuidado de se limitar a expansão (dos gastos), o nosso trabalho, o trabalho dos empresários vai ficar prejudicado e a economia vai retrair mais. Podemos ter recessão maior", alertou Levy.
O ministro pontuou algumas incertezas que permeiam a visão dos investidores sobre a gestão fiscal, como o ritmo de crescimento da dívida, o volume de despesas obrigatórias, a arrecadação insuficiente, as contas da Previdência que não fecham e seis meses de discussão sobre como financiá-las.
"Se é impossível as empresas continuarem trabalhando financiando a Previdência, isso traz dúvidas profundas sobre o financiamento do Estado e traz necessidade de realmente enfrentar as despesas obrigatórias", disse o ministro, que acrescentou que as próprias empresas têm resistido em pagar impostos.
"Mas acho que situação é superável. Se houver entendimento, a gente não precisa ir por esse caminho", comentou Levy.
Levy afirmou também que as condições do Brasil são "realmente excelentes" e basta que se "organize tudo" para o País voltar a crescer, numa mensagem de otimismo ao setor exportador.
"As condições do Brasil são realmente excelentes, é questão de a gente organizar tudo isso. Temos um trabalho coordenado para liberar amarras da economia em quadro de confiança e estabilidade fiscal", disse Levy em seu discurso.
Segundo o ministro, poucos países têm população jovem e mercado interno como o Brasil. "A base para conseguirmos segurança para investir é estabilidade fiscal e política, e vamos ter isso", afirmou Levy.
Ajuste fiscal
O ministro da Fazenda afirmou também que as linhas de crédito da Caixa e do Banco do Brasil (BB) em condições mais favoráveis para a cadeia de fornecedores do setor automotivo não comprometem o ajuste fiscal, pois são operações comerciais. O fato de o crédito mais barato usar contratos e recebíveis dos fornecedores com as montadoras torna essas linhas de crédito uma operação comercial, que os bancos fazem normalmente.
"Não compromete o ajuste, é uma operação de mercado", afirmou Levy. "A linha mais especial é para o transporte público, que é importante, é uma prioridade, é eficiente e sustentável para o meio ambiente. O resto é uma operação mais comercial, na qual a gente apoia os fornecedores usando o próprio valor (de contratos) como qualidade de crédito das montadoras", completou o ministro.
Levy definiu as linhas como "uma coisa absolutamente normal". Quando você é fornecedor de uma empresa grande, pode usar recebíveis e garantias que a empresa grande dá para melhorar sua qualidade de crédito. É um arranjo perfeitamente comercial", completou Levy.
Pouco antes, na abertura do Enaex 2015, o presidente da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa criticara as medidas anunciadas na terça-feira, 18, pela Caixa. Levy também defendeu, em seu discurso, a importância de medidas "horizontais". Após a cerimônia, o ministro afirmou que as linhas da Caixa e do BB não ferem o princípio da horizontalidade.
"No caso, não, porque você está levando em conta a força, a qualidade de crédito dessas companhias. É um arranjo que os bancos fazem todos os dias com os fornecedores. Se você tiver um setor em que o contratante tem uma reputação internacional, tem uma qualidade de crédito, é eficiente você utilizar essa qualidade de crédito, seus recebíveis, para melhorar a qualidade de crédito, portanto, baixar o custo dos fornecedores", explicou Levy.