A presidente Dilma Rousseff deixará o Palácio do Planalto entregando ao país um Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o existente quando ela foi reeleita. Projeções do Itaú Unibanco indicam que a taxa média de variação da economia no segundo mandato de Dilma será negativa: -0,3%. Para chegar a esse número, o banco estimou uma retração de 2,3% em 2015, uma recessão de 1% em 2016, um tímido crescimento de 0,4% em 2017 e uma expansão da economia de 1,7% em 2018. Se confirmado, será o pior resultado desde o governo Collor, quando o PIB teve queda média anual de 1,65%. Especialistas avaliam que essas estimativas podem piorar com o agravamento das crises política e econômica, além dos riscos externos relacionados ao dólar e à desaceleração da China.
Os números mais recentes confirmam o cenário desolador. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, uma espécie de prévia do PIB, apontou um recuo de 1,89% no segundo trimestre. Esse é o terceiro período trimestral consecutivo de queda do indicador, o que configura recessão. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, explicou que o enfraquecimento da economia é resultado de uma combinação perversa da piora das contas públicas, que provocou o aumento do risco país, e redução do financiamento externo.
A redução do ingresso de recursos estrangeiros, explicou, implica queda de investimentos e desvalorização do real frente ao dólar, o que pressiona a inflação, reduz a renda dos trabalhadores e leva o BC a aumentar os juros para conter a carestia. Goldfajn alertou que as dificuldades políticas e econômicas enfrentadas pelo governo para executar o ajuste fiscal reduzem a possibilidade de crescimento a curto prazo. ;Está claro que as condições atuais não são as ideais. Política econômica é a arte do possível. A questão central é se o governo será capaz de implementar o ajuste;, comentou.
Segundo o economista, além dos problemas domésticos, o país está exposto a riscos internacionais que podem agravar ainda mais a crise. Entre eles, Goldfajn listou a possibilidade de desaceleração mais forte do que a esperada da economia chinesa, de alta de juros dos Estados Unidos mais intensa do que a prevista e o rebaixamento da nota de crédito do Brasil em função da alta da dívida do setor público. ;O próprio discurso do BC sinaliza que uma alta mais forte do dólar pode levar a um aumento dos juros. Isso teria reflexo negativo sobre a atividade econômica;, observou.
Década perdida
Na opinião do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, Dilma entregará o país para o próximo presidente em uma situação econômica pior do que quando recebeu o cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas contas dele, entre 2015 e 2018, o PIB terá vai encolher a uma taxa média de 0,2% a cada ano. Com isso, o país vai lamentar mais uma década perdida, assim como anos anos 1980.
Para Camargo, os desequilíbrios que resultaram na disparada da inflação e na deterioração fiscal começaram no segundo mandato de Lula, quando o Executivo passou a interferir no mercado e deixou de fazer superavits primários adequado para evitar o crescimento da dívida pública. Dilma continuou com a mesma política e ainda tentou diminuir os juros na marra, o que fez a inflação subir. Além disso, o governo tentou limitar taxas de retorno de concessões de infraestrutura e represou preços de energia elétrica e de combustíveis, desorganizando esses dois setores da economia. ;Houve um conjunto de erros micro e macroeconômicos e as consequências apareceram agora;, disse.
Camargo explicou que o país só voltará a crescer com a execução do ajuste fiscal, mas esse processo será longo, doloroso e requer um compromisso forte da equipe econômica. Ele tem dúvida, porém, se a correção de rumos sairá do papel. ;O fato de Banco do Brasil e Caixa anunciarem linhas especiais de crédito para o setor automotivo e sinalizarem que estenderão esses financiamentos para outros segmentos são uma clara sinalização de que a política econômica do primeiro mandato está de volta. O cenário se torna cada vez mais preocupante e a situação pode piorar ainda mais;, afirmou.
Para o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paula Silveira, na melhor das hipóteses, a média de desempenho do PIB entre 2015 e 2018 será zero. Ele ponderou que a retomada do crescimento passa pela disposição do setor privado em investir, o que não existe neste momento. De acordo com ele, os sucessivos erros dos últimos anos minaram a confiança do setor privado. ;A percepção de risco em relação ao Brasil cresceu bastante nos últimos dois anos, e o processo eleitoral agravou esse cenário. Muitas decisões equivocadas foram tomadas no passado e isso se reflete em menor geração de riquezas;, comentou.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique