Agência Estado
postado em 25/08/2015 10:59
Os preços das commodities atingiram o menor nível no século 21, afetadas pela crise na China e pelos temores de que o maior importador do mundo passe por dificuldades financeiras e registre um crescimento econômico moderado.Segundo o Índice Bloomberg, que compila os preços de 22 matérias-primas, os valores estão no nível mais baixo desde agosto de 1999. O principal motivo é a queda na demanda chinesa que, por mais de uma década, garantiu a expansão dos preços.
De forma geral, o índice, que inclui de ovos a ouro, recuou 1,9% nesta segunda-feira (24/8) atingindo US$ 86,1 - o que ainda foi aprofundado com as declarações do governo iraniano de que voltaria ao mercado sem um acordo para limitar a produção de petróleo com a Arábia Saudita. Ontem, o índice estava 40% abaixo dos níveis de 2012, acumulando uma queda de 17% apenas em 2015.
O resultado foi o recuo de 4,0% do barril do petróleo, para US$ 43,40 nas bolsas europeias, o menor valor desde 2009 e distante do recorde de US$ 114 atingido em 2014. O preço também está 55% abaixo dos índices de agosto de 2014. Nos Estados Unidos, o barril chegou a ser negociado a US$ 37,75, com queda de 6,7%. "Esse é um momento épico no mercado do petróleo", disse Matt Smith, diretor de pesquisas da consultoria ClipperData.
Em menos de um ano, as empresas do setor demitiram ou fizeram anúncios de futuras demissões envolvendo 100 mil empregados.
O freio na maior fabricante de aço e no maior produtor de carros do planeta - a China - também afetou o setor de minérios. Em Londres, o preço do cobre caiu em 2,6% para atingir seu menor patamar desde 2009. A produção hoje já é bastante superior à demanda mundial. As estimativas são de que, entre janeiro e junho, 151 mil toneladas de cobre foram produzidas além da demanda. Para 2015, as projeções apontam que o metal, que serve como termômetro do segmento de minérios, deve ter uma expansão de mercado de apenas 2%, uma das menores em uma década.
Hoje (25/8), quase um quinto de todas as minas no mundo opera com prejuízos. Até o ouro, considerado refúgio em qualquer tipo de crise, sofreu ontem uma queda de 0,4%.
No setor de alumínio, além da desaceleração chinesa, as empresas ocidentais terão de concorrer com a produção local que, apenas em seis meses, aumentou 36%.
Campo
No setor agrícola, a queda já vem alarmando o segmento há meses. Na semana passada, a cotação do milho registrou apenas metade do valor que atingiu em 2012. Nos Estados Unidos, a Universidade de Minnesota indicou que a renda dos fazendeiros passou de US$ 175 mil por ano em 2012 para US$ 55 mil em 2014. Os dados foram confirmados por levantamentos feitos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Para 2015, a projeção do Departamento de Agricultura é de que a renda média do fazendeiro americano seja a menor desde 2009, com uma queda de 32% e somando em todo o país cerca de US$ 74 bilhões.
Na Bolsa de Chicago, soja e trigo também perderam valor, enquanto a borracha caiu para o menor nível em 10 meses na Bolsa de Tóquio. Na Malásia, o óleo de palma perdeu 3,0% de seu valor em um dia.
Empresas de diversas partes do mundo começam a ser afetadas pela queda nos preços no campo. A Deere & Co, produtora de equipamentos, registrou queda de 30% no faturamento nos seis primeiros meses do ano. Archer Daniels Midland, Bunge e Cargill registraram resultados abaixo do esperado. "O ambiente econômico continua afetado em muitos mercados emergentes, onde investimos de forma pesada nos últimos anos", disse o presidente executivo da Cargill, David MacLennan.
Perda no Brasil
No segundo trimestre, a Bunge teve queda de 70% em seus lucros, em parte por causa da economia brasileira. Segundo a empresa, os resultados foram consequência de uma "pressão dramática" sofrida no Brasil. No mundo, as vendas despencaram 35,8%.
No setor de minérios, ações de dezenas de empresas também sofreram, como a gigante BHP Billiton. A companhia perdeu 9,2% em apenas um dia e atingiu o menor valor desde 2008.
Na Glencore, na Suíça, a empresa fechou o primeiro semestre com queda de 29% nas vendas diante da redução dos preços do alumínio, níquel e outras matérias-primas. O faturamento da companhia caiu e as ações tiveram uma desvalorização de mais de 50% desde o ano passado. A fortuna de seu dono, Ivan Glasenberg, foi reduzida em um terço, para cerca de 2 bilhões de libras esterlinas.
A queda também repercutiu nas moedas de países com forte dependência na venda de commodities. O dólar canadense, o rublo russo e o rand da África do Sul foram alvos de quedas importantes.