Os alimentos ficaram mais baratos no atacado e ajudaram a conter a inflação no mês passado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, e a estimativa dos analistas é a de que o indicador registre variação entre 0,21% e 0,25%, a mais baixa do ano, depois dos fortes aumentos nos meses anteriores. No entanto, mesmo com as estatísticas mostrando que as remarcações estão menos aceleradas, a percepção dos consumidores é a de que a carestia não tem dado trégua.
O aposentado Luís Almeida, 65 anos, diz que não consegue enxergar sinais de melhora. Vivendo com as aposentadorias dele e da mulher, ele não faz extravagâncias e compra no mercado só o que precisa para consumo imediato. ;Faço compras reduzidas, não exagero. Não adianta comprar em grande quantidade, ainda mais alimentos que estragam rapidamente;, constatou. ;Pelo cenário político atual, acredito que vai demorar muito para a inflação cair;, afirmou.
Corrosão
Há apenas uma contradição aparente entre o IPCA mensal menor e as queixas contra o custo de vida cada vez mais alto. Mesmo com a momentânea perda de fôlego em agosto, a inflação acumulada nos últimos 12 meses continuará muito elevada, na casa dos 9,6%. Isso representa uma forte corrosão do poder de compra dos consumidores, que vem encolhendo também devido à recessão ao aumento do desemprego. Segundo o IBGE, em julho, o rendimento médio dos trabalhadores teve a sexta queda mensal consecutiva, ficando 2,4% abaixo do valor registrado no mesmo período do ano passado. Não é de se estranhar, portanto, que as pessoas tenham a sensação de que estão deixando uma parte cada vez maior do salário nos caixas do supermercados.
Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), observa que, dos 365 produtos acompanhados pelo IPCA-15 ; indicador que mede a inflação de 30 dias até a primeira quinzena de cada mês ;, três lideraram as quedas dos alimentos verificadas em agosto: batata inglesa (-0,02%) tomate (-0,02%) e leite longa vida (-0,17%). Além disso, o índice de difusão do IBGE caiu para 68,5%, ante os 73,4% de janeiro. ;Isso mostra que os aumentos estão menos espalhados. Os preços vão continuar a subir, mas não naquele ritmo alucinante do começo do ano;, afirmou.
A comerciante Yelma Saboia, 27 anos, porém, não sentiu alívio no orçamento. "Todos os dias estou no mercado, mas não noto essa queda de preços, não. Fico atenta às promoções anunciadas na tevê, mas está difícil lidar com os aumentos;, disse ela. Dona de um quiosque no Setor de Indústrias Gráficas, onde serve café da manhã e almoço, ela conta que não aumenta o preço das refeições para ;não espantar a freguesia;. ;Depois de pagar todas as contas, não sobra nada. Só sofrimento;, queixou-se.
O professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Fragelli contabiliza uma majoração de 40% no valor das compras do supermercado nos últimos meses. ;Ainda não senti nenhum alívio nas minhas contas e, com três crianças em casa, fica muito difícil cortar algum item da lista, principalmente frutas. Como não tomamos refrigerante, fazemos muito suco natural. O morango está bem mais caro e a goiaba, supercara;, reclamou.
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