Economia

A Índia é único grande país entre os emergentes que evita o marasmo

"A China está em plena desaceleração, e Brasil e Rússia com problemas porque são dependentes das matérias-primas", afirma economista

Agência France-Presse
postado em 14/09/2015 16:14

Nova Délhi, Índia - A Índia poderia seguir o caminho dos grandes países emergentes, politicamente paralisada e com um crescimento fraco; mas em três anos revelou um dinamismo consistente, enquanto seus parceiros do BRICS lutam para evitar ou deixar o marasmo.

Dos cinco BRICS, dois - Brasil e Rússia - encontram-se mergulhados na recessão; a África do Sul é prejudicada pela queda da demanda por matérias-primas; e a China dá sinais de esgotamento de seu modelo econômico.

A Índia parece converter-se no membro do G20 (de potências industrializadas e emergentes) com o mais alto índice de crescimento, em torno de 7% anual, e uma situação financeira reforçada graças ao baixo preço do petróleo.

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"Se observarmos os dados de crescimento, a Índia está decididamente melhor que os demais (BRICS)", afirmou à AFP Kunal Kundu, economista no banco Société Générale de Bangalore (sul da Índia).

"A China está em plena desaceleração, e Brasil e Rússia com problemas porque são dependentes das matérias-primas", acrescenta.

No entanto, nem tudo são flores para a Índia: os dados do PIB foram resultado não só da forte queda dos preços do petróleo bruto como também de uma nova metodologia de cálculo. Suas exportações continuam sendo pouco volumosas e na Bolsa de Bombaim as principais ações são negociadas 5% abaixo do patamar de um ano atrás.

Economistas afirmam que o crescimento da Índia continua sendo fraco e questionam até que ponto a nova metodologia de cálculo do PIB é confiável.

A Índia, entretanto, saiu relativamente bem das tormentas que sacudiram os mercados financeiros, provocando fugas de capitais dos mercados emergentes.

"A Índia parece um oásis de estabilidade neste momento", opinou Mark Williams, chefe do departamento de Ásia da Capital Economics de Londres.

"O panorama é muito diferente daquele de dois anos atrás, quando a Índia era o foco das preocupações", acrescentou.



China desacelera, BRICS despencam

Quando a China tinha um crescimento anual de 10%, construindo estradas e ferrovias, com suas cidades cobertas de arranha-céus e centros comerciais, suas necessidades de petróleo, carvão, aço e cimento eram insaciáveis.

Agora, os dados oficiais apontam a expansão mais fraca desde os anos 90, e os analistas acreditam que ainda assim dissimulam uma verdade menos brilhante.

Enquanto a China reduz seu apetite por matérias-primas, o Brasil, cuja economia é fortemente dependente da venda de commodities para o gigante asiático e outros países, sente imediatamente o impacto.

Os preços das matérias-primas em agosto afundaram ao menor nível em 16 anos, e ninguém mais compra como antes, segundo o Bloomberg Commodity Index, que analisa a evolução de 22 produtos.

"O Brasil se viu mais afetado, mais do que os outros países emergentes", disse Alex Agostini, analista da Austin Rate, em São Paulo, após a decisão da Standard and Poor;s de rebaixar a nota da dívida brasileira à categoria especulativa.

Em 2010, em pleno auge, o país chegou a crescer 7,5%; mas neste ano entrou em recessão e os economistas acham que encerrará 2016 sem se recuperar. À crise econômica soma-se a forte instabilidade política, em meio às denúncias de corrupção do escândalo da Petrobras, que contribuíram para a queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff.

A Rússia, exportadora de petróleo, não só se viu atingida pela desvalorização do preço do barril, como também pelas sanções impostas pelos países ocidentais pela crise na Ucrânia. Segundo o instituto de estatísticas Rosstat, cerca de 31,7 milhões de russos (cerca de 15% da população) vive abaixo da linha de pobreza.

"Agora, o maior impacto vem pela (desaceleração da) China, que influencia a economia global, nas commodities e nos mercados financeiros", afirma Oleg Kouzmin, da consultora Renaissance Capital, de Moscou. Segundo o analista, a economia russa neste ano terá uma contração de aproximadamente 4%.

A África do Sul, um dos maiores fornecedores de minério para a China, também sofre com a desaceleração da segunda economia do mundo. A previsão de crescimento da África do Sul se reduziu a um tímido 1,3% e as grandes mineradoras anunciaram milhares de demissões.

Os BRICS ainda podem se ver afetados por um aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, que tornaria mais atraentes os investimentos em dólares, desviando capitais dos mercados emergentes.

Obstáculos persistentes


A Índia, cujo dinamismo foi destacado pelo FMI, pôde equilibrar suas finanças, em grande medida, graças à queda do preço do petróleo, considerando que o país importa 80% do petróleo que consome.

Além disso, por não depender tanto das exportações, não teve grandes problemas com a redução da demanda global.

"Nós não temos os mesmos problemas que os demais países emergentes", disse Arya Sen, do banco de investimentos Jefferies em Mumbai.

Muitos políticos indianos se vangloriam da aceleração econômica do país, com um índice de crescimento que já rivaliza com o da China.

Muitos analistas advertem, no entanto, que a Índia ainda sofre com problemas estruturais e que qualquer otimismo é prematuro.

As leis trabalhistas e sobre investimentos continuam sendo extremamente complexas e suas infraestruturas são ultrapassadas.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi, que chegou ao poder em maio de 2014, teve que abandonar uma série de reformas, entre elas uma lei de cessão de terras.

E o PIB indiano, de cerca de dois trilhões de dólares, representa ainda a quarta parte do chinês, que apesar de sua desaceleração continua assegurando um terço do crescimento global.

"A Índia não tem que ser complacente e sem seus obstáculos tradicionais poderia crescer muito mais, até 9%, 10% ao ano", aponta Mark Williams, da Capital Economics.

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