O governo tenta desesperadamente evitar a perda do grau de investimento por mais duas agências de classificação de risco, a Moody;s e a Fitch, depois de, na semana passada, a Standard & Poor;s ter retirado do país o selo de bom pagador. Mas é um esforço fadado ao fracasso, na avaliação de analistas de mercado. De nada adiantará o pacote fiscal lançado na última segunda-feira. ;É tarde demais;, afirmou o economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O problema é que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) não para de subir. E vai crescer mais ainda nos próximos anos. Uma razão para isso é a incapacidade do governo de cortar gastos públicos. Outra é a recessão, que faz a arrecadação diminuir, ampliando o rombo das contas públicas, e prejudica a própria base de cálculo. Mesmo que a dívida ficasse estacionada ; está longe de ser o caso ;, se tornaria proporcionalmente maior em relação a um PIB cada vez menor.
;O país precisaria de um esforço fiscal muito maior do que o atual, que resultasse em superavits primários de pelo menos 2% do PIB;, afirmou Rotagno. Era essa a expectativa do governo para os próximos anos. Mas, diante do insucesso que tem enfrentado na aprovação das propostas enviadas ao Congresso Nacional, a previsão de superavit foi revisada, no mês passado, para 0,7% em 2016 e 1,3% em 2017.
Só em 2018, o Ministério da Fazenda espera voltar ao patamar que mirava anteriormente. Mas ninguém acredita que essas novas metas serão factíveis. Rostagno prevê resultado fiscal negativo de 0,3% do PIB neste ano. Mesmo no próximo, haverá deficit ; de 0,1%, de acordo com o economista.
Sem separar dinheiro para pagar ao menos os juros, é inevitável que a dívida cresça. E, com o PIB cadente, ficará cada vez mais assustadora. ;As agências que não rebaixaram ainda o país provavelmente não se deram conta dessa tendência. Quando perceberem, a perda do grau de investimento do Brasil será inevitável;, apostou o economista do Mizuho.
Para Rostagno, nos últimos meses do próximo ano, a proporção da dívida ultrapassará a barreira de 70% do PIB, um patamar assustador para um país emergente. Encerrará 2016 em 71%. No ano seguinte, serão 73%. E em 2018, 74%.Quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência em 2011, essa relação era de 53,4%.
Sem a anuência de duas agências ao menos, fundos de investimentos mais conservadores passam a ser proibidos de comprar papéis do governo brasileiro. O acesso a um mercado de US$ 15 trilhões fica reduzido a US$ 5 trilhões. Com menor mercado para seus títulos, o governo terá de pagar juros mais altos. Mas o prejuízo vai muito além, porque as empresas brasileiras também passarão a ter restrições de crédito. Devem investir menos, empurrando a economia para baixo.
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