Agência Estado
postado em 17/09/2015 11:24
A crise das grandes construtoras brasileiras chegou ao caixa dos aeroportos privados. As concessionárias que administram Viracopos, Brasília e São Gonçalo do Amarante (RN) deixaram de pagar alguns dos fornecedores e acumulam pendências comerciais ou bancárias, dívidas vencidas e títulos protestados pelos credores, de acordo com dados da Serasa obtidos pelo jornal o Estado de S. Paulo.A situação das concessionárias reflete os problemas de liquidez de seus controladores. A Aeroportos Brasil Viracopos tem como uma das acionistas a UTC Participações, dona da UTC Engenharia, umas das principais empresas investigadas na operação Lava Jato. Só em setembro, o aeroporto recebeu 119 protestos de títulos e acumula pendências comerciais com empresas de engenharia e locação de equipamentos para construção civil, por exemplo.
Apenas neste mês, a UTC Engenharia teve 343 títulos protestados e outra empresa do grupo, a Constran, responsável por obras de Viracopos, tem outros 361 protestos de credores.
A própria concessionária admitiu, no início do mês, em comunicado, que a "redução do fluxo de recursos" em 2015 levou ao atraso na obra do novo terminal de Viracopos, que deveria estar pronto para a Copa do Mundo.
Na quarta-feira, 16, também em nota, a administradora afirmou que recebeu um aporte de seus acionistas esta semana e que poderá concluir a obra do novo terminal. A companhia estima que terá R$ 115 milhões disponíveis até o fim do ano para o investimento, valor que inclui o aporte dos acionistas, a geração de caixa, crédito privado e do BNDES e que garante ser suficiente.
"Após vencer um momento de turbulência por conta da situação de liquidez da economia, Viracopos vem quitando as dívidas com fornecedores e é uma empresa saudável economicamente", disse a concessionária.
Em meio à crise, o grupo UTC tenta vender sua participação de 45% na empresa que é dona de 51% de Viracopos (os outros 49% são da Infraero), processo conduzido pelos bancos credores da companhia. A Triunfo Participações, que detém outros 45% da concessionária, tem interesse de exercer o direito de preferência pela parte da UTC, segundo fontes do mercado. A empresa, no entanto, aguarda as condições oferecidas pelos bancos credores da UTC.
Alavancada, a Triunfo começou a se desfazer de ativos para reduzir sua dívida - a empresa vendeu em agosto duas usinas hidrelétricas por R$ 1,75 bilhão. Na época, informou que o dinheiro seria destinado para reduzir o endividamento da companhia de 4,5 vezes o Ebitda para cerca de 3 vezes.
A estratégia, segundo fontes, seria focar em negócios mais rentáveis, como Viracopos. "Eles (Triunfo) podem exercer o direito de preferência, mas poderão buscar sócios futuros", disse uma fonte de mercado. Procuradas, UTC e Triunfo não comentaram.
Negociação
A Inframerica, que administra os aeroportos de Brasília e de São Gonçalo do Amarante, recebeu centenas de cobranças de credores no segundo semestre do ano passado. As cobranças continuam este ano, mas em ritmo menor. Segundo dados da Serasa, há 82 protestos de títulos em agosto referentes a contratos comerciais em São Gonçalo do Amarante e outros 26 entre março e agosto dos credores de Brasília.
A Inframerica informou que "está em contato com seus fornecedores e todas as obrigações destas relações comerciais estão negociadas". "Até o final de 2015, as pendências remanescentes em ambos os aeroportos serão quitadas e os protestos baixados", afirmou.
A empresa tinha entre os acionistas fundadores o grupo Engevix, que também é alvo da operação Lava Jato. A Engevix anunciou em maio a venda de sua fatia na Inframerica para seu ex-sócio, o grupo argentino Corporación América. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já aprovaram a operação.
Concessão
A Anac disse que "não tem ingerência" sobre relação entre as concessionárias e fornecedores, mas, esclareceu, que há situações previstas em contrato para a retirada da concessão. A Secretaria de Aviação Civil informou que as cláusulas podem ser acionadas em caso de "relevante interesse público e/ou o descumprimento de obrigações contratuais que possam ter grave impacto negativo na prestação de serviço". Colaborou Mônica Scaramuzzo