Agência Estado
postado em 29/09/2015 12:22
O economista-chefe do banco francês BNP Paribas na América Latina, Marcelo Carvalho, disse nesta terça-feira (29/9) que o Banco Central pode e deve usar as reservas internacionais para tentar conter a depreciação do câmbio. "Mas seria um mecanismo apenas para suavizar o movimento do dólar, essa é uma medida paliativa, não ataca o problema principal", afirmou."O câmbio desvalorizado é resultado de uma deterioração do lado fiscal brasileiro, portanto, é preciso atacar os problemas fiscais do Brasil. O uso das reservas cambiais ajuda, mas não resolve. E as reservas estão aí para serem usadas, são um fator que diferencia favoravelmente o Brasil do resto do mundo. Reserva não é peça de museu", disse.
[SAIBAMAIS]Na política de juros, Carvalho considera pouco provável um choque de alta para atrair capital externo, como fez a Rússia no ano passado. "Não é o que o mercado financeiro está precificando O BC está mais preocupado em conter desvios significativos da meta de inflação. Teria de haver uma piora muito mais intensa do quadro inflacionário para haver um choque de juros", afirmou, ressaltando que a inflação caminha para uma desaceleração no ano que vem.
Segundo o economista-chefe do BNP Paribas, como o principal problema da economia brasileira não é de balanço de pagamentos, mas sim fiscal, é mais provável que o BC intervenha por meio do uso das reservas cambiais, que hoje estão em torno de US$ 3670 bilhões, do que através do aumento das taxas de juros. "Essa é a inclinação do BC", disse.
Previsões
A economia brasileira deverá registrar recessão de 3,0% em 2015 e de 2,0% em 2016, previu Marcelo Carvalho, em teleconferência com jornalistas sobre as projeções macroeconômicas da instituição.
Para Carvalho, as projeções se devem ao que ele chamou de "choque triplo". "Primeiro você tem um cenário externo difícil, com desaceleração da China e expectativa de alta dos juros nos EUA. Segundo, porque estamos pagando os erros de política econômica dos últimos anos. E terceiro, porque há as investigações da operação Lava Jato, que reforçam um ambiente de instabilidade no País", enumerou.
Diante desse cenário, o economista afirmou que, sem a retomada da confiança entre os empresários e consumidores, não haverá uma recuperação sustentável do crescimento econômico. "Esse é o grande desafio do Brasil: retomar a confiança", disse.
Para a inflação, Carvalho espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcance a taxa de 9,5% em 2015 e desacelere para 6,5% no ano que vem. Ele pondera, no entanto, que as previsões para a inflação estão ficando piores porque há um pessimismo maior em relação à situação fiscal do governo, que deve continuar delicada em 2016, apesar dos esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Ainda assim, diz o economista do BNP Paribas, é pouco provável que o Banco Central volte a subir os juros. "Nos parece que a barra é muito alta para o BC voltar a subir juros. Teríamos de ter uma deterioração muito mais intensa para os juros serem elevados", disse.
Segundo Carvalho, o governo deverá registrar um déficit primário de 0,5% em 2015 e de 1,0% em 2016. Ele prevê também que a dívida pública do Brasil em relação ao PIB supere o patamar de 70% no ano que vem, nível considerado alarmante pelas agências de classificação de risco. "A maioria dos países semelhantes ao Brasil tem um nível próximo de 40%", compara.
Sobre as agências, o economista diz que é mais provável o Brasil perder o grau de investimento da Moody;s, já que, na Moody;s, o País só está uma nota acima do grau especulativo. "Na Fitch, ainda faltam duas notas para perder o grau de investimento. É pouco provável que eles retirem duas notas de uma vez só", acredita.
Juros nos EUA
Para Marcelo Carvalho, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deverá iniciar o ciclo de alta das taxas de juros em dezembro. "Este ciclo deve continuar ao longo do ano que vem e as taxas de juros devem chegar a um pico de 2,5% em 2017", previu o economista, que espera um crescimento de 2,5% para o PIB dos Estados Unidos neste ano.
Na Ásia, Carvalho espera a continuação do processo de desaceleração econômica da China, o maior parceiro comercial do Brasil. "A economia chinesa, que cresceu 7,3% no ano passado, deve crescer 6,8% neste ano e 6,5% no ano que vem", projeta. "Há sinais claro de desaceleração da China e isso deve continuar", diz.