Economia

Tensão retorna: dólar sobe para R$ 3,89 e bolsa desaba

Moeda norte-americana sobe 3,58%, para R$ 3,89 - a maior alta em um único dia desde setembro de 2011. Desaceleração da China e crise política interna aumentam o nervosismo e levam a Bovespa a ter o pior pregão do ano, com queda de 4%

Paulo Silva Pinto
postado em 14/10/2015 06:10


Depois de uma semana de bonança, os mercados voltaram à dura realidade. Ontem, o dólar subiu 3,58%, na maior alta em um dia desde 21 de setembro de 2011, fechando a R$ 3,894. E o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM), recuou 4%, encerrando o pior pregão do ano em 47.362 pontos. O tombo, o maior desde 1; de dezembro de 2014, veio depois de um rali de nove altas seguidas, com valorização de 12,24%.


As explicações para o mau humor generalizado estavam dentro e fora do país. O economista-chefe do Banco Modal, Álvaro Bandeira, destacou o problema doméstico. ;O que mais atrapalha é o estresse político;, afirmou. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar que dificulta uma possível decisão para o início de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.


O economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano, também viu na política o fator preponderante para a turbulência. ;Temos um quadro de indefinição, o que é muito ruim;, disse. ;O dólar poderia seguir para R$ 3,80 em um contexto de tranquilidade, mas não é isso que temos;, afirmou.


Para o economista-chefe da AZ FuturaInvest, Paulo Nogueira Gomes, ;a única certeza é que os mercados vão continuar com muita volatilidade;. Na sua avaliação, o cenário externo foi a principal motivo do comportamento do câmbio e das ações ontem. O que mais causou tumulto no mercado global foram a queda de 20% nas importações da China em setembro, ante expectativa de redução de 15%.


Gomes explicou que esse dado, que mostra desaquecimento da segunda economia global, emite sinais ambivalentes, ampliando a volatilidade. De um lado, traz pessimismo com a recuperação da atividade e da demanda. De outro, aumenta as apostas de que o Fed (Federal Reserve, autoridade monetária dos Estados Unidos) vai deixar para o próximo ano a decisão de elevar os juros ; algo que, quando ocorrer, vai provocar saída de recursos de países emergentes.

Desafios
Os analistas da Coinvalores Felipe Silveira e Daniel Liberato destacaram a repercussão na bolsa de declarações de membros do Fed, que mencionaram a possibilidade de elevação dos juros ainda em 2015. ;A inflação ainda está muito baixa nos EUA. No entanto, alguns dirigentes acham que é possível a autoridade monetária subir juros já na reunião de dezembro;, afirmou Silveira. Na avaliação de Liberato, a queda nas importações da China foi responsável por derrubar a Bolsa. ;Isso abala sobretudo os países que vendem muitas commodities, como o Brasil, porque derruba os preços dos produtos;, explicou.
Liberato ressaltou que, após o rali de nove altas seguidas no Ibovespa, os investidores aproveitaram para realizar lucros, vendendo ações que se valorizaram nos últimos pregões.


Um fator determinante foi a queda dos papéis dos quatro maiores bancos do país ; Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander ;, depois que o Credit Suisse reduziu a recomendação dessas ações, avaliando que as instituições devem enfrentar desafios diante das dificuldades da economia brasileira. Em conjunto, elas perderam ontem R$ 23,66 bilhões em valor de mercado.


Outro componente que contribuiu para a queda das ações foi o fato de ter sido o primeiro pregão depois de um feriado. Na segunda-feira, ações de empresas brasileiras negociadas na Bolsa de Valores de Nova York tiveram forte queda, algo que foi incorporado aqui, ontem, ao preço dos papéis. (Colaborou Simone Kafruni)

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