Apesar das negativas enfáticas do Ministério da Fazenda, o ministro Joaquim Levy pode, sim, deixar o governo. Bombardeado pelo ex-presidente Lula, pelo PT e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o chefe da equipe econômica pediu ontem a intervenção da presidente Dilma Rousseff para que o tiroteio contra ele diminua. Na conversa que teve com a chefe, Levy deixou claro que o cargo é dela, mas enfatizou seu compromisso de equacionar as contas públicas por meio de um ajuste fiscal consistente, que precisa do apoio de todos para dar certo. Na avaliação do ministro, mais do que a gritaria contra ele, o que o incomoda é a falta de defesa a seu trabalho.
A pressão contra o ministro atingiu o ápice esta semana, sem que Dilma expressasse, publicamente, apoio a ele. Em congresso da CUT, o que mais se ouviu foi ;fora Levy; sob o aplauso de Lula, que, em jantar com a presidente, na noite de quinta-feira, a aconselhou, mais uma vez, a trocar o comando da Fazenda. O líder petista está tão convencido sobre a saída de Levy, que afirmou a parlamentares do PT que o ministro havia ;perdido o prazo de validade;. O nome preferido de Lula para a chefia da equipe econômica é o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. Mas Dilma o odeia.
Levy tem apoios importantes para se manter no cargo, entre eles, os presidentes dos dois maiores bancos privados do país: Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Roberto Setúbal (Itaú Unibanco). Ele não é, porém, mais unanimidade no mercado financeiro. Parte dos investidores acredita que o ministro está esvaziado e perdeu força para tocar o ajuste fiscal necessário para resgatar a confiança do país e abrir as portas à retomada do crescimento econômico. Essa visão é justificada pelas consecutivas derrotas de Levy dentro do governo, a mais emblemática delas, o envio do Orçamento de 2016 ao Congresso prevendo deficit de R$ 30,5 bilhões, que levou o país a perder o grau de investimento pela Standard & Poor;s (S).
O ministro, por sinal, está travando um novo embate dentro do governo: a definição de quanto será o rombo nas contas deste ano, uma vez que a meta de superavit de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) se tornou inviável. Ontem, em reunião da Junta Orçamentária, da qual participaram Dilma e os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da Casa Civil, Jaques Wagner, não se chegou a um consenso sobre o tamanho do buraco que será apresentado ao Congresso para a revisão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Se não fizer isso, o governo pode ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e ser pego novamente pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
O encontro durou mais de três horas e provocou tumulto no mercado financeiro, que operou, por quase todo o dia, sob os rumores de saída de Levy. Houve boatos de que o ministro já teria escrito a carta de demissão. Com isso, o dólar, que havia caído na véspera, mesmo com a agência de classificação de risco Fitch tendo rebaixado o Brasil, subiu 1,92%, cotado a R$ 3,874. A Bolsa de Valores de São Paulo oscilou bastante, mas fechou com alta de 0,16%.
Bolsa de apostas
Para tentar acalmar os ânimos, a assessoria de Levy reforçou que ele não pediu demissão. ;Não existe carta. O ministro continua trabalhando e se esforçando pelo futuro do país;, informou um dos assessores no início da noite. Porém, fontes palacianas garantem que Levy só não saiu ainda porque Dilma não conseguiu encontrar um substituto. Não por acaso, a bolsa de apostas para o substituto do cheque da equipe econômica está correndo a todo vapor. Além de Meirelles, são citados Nelson Barbosa e Tony Volpon, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
A grande pergunta é se o sucesso de Levy aceitará uma mudança radical na política econômica. Lula vem defendendo o afrouxamento do ajuste fiscal, justamente o que levou o país para o buraco nos quatro primeiros anos de mandato de Dilma Rousseff. No Congresso, o relator do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), já indicou que não há a menor possibilidade de os parlamentares aprovarem a CPMF, com a qual Levy pretende arrecadar R$ 32 bilhões por ano. Barros defende o aumento da Cide, o imposto sobre combustíveis, como uma das alternativas para o ajuste fiscal.
Diante desse quadro, vários amigos de Levy o tem questionado sobre sua permanência no governo. A justificativa do ministro é de que ele tem a confiança de Dilma e que não há como pular do barco sem que pelo menos o ajuste fiscal esteja encaminhado. No entender do ministro, o momento exige calma, uma vez que o país está caminhando em direção ao precipício. A saída dele agora do governo só aceleraria o passo rumo ao colapso da economia. ;Apesar de estar muito incomodado com o tratamento que vem recebendo, Levy continua ministro. Mas a corda foi esticada demais;, disse um importante funcionário do Ministério da Fazenda. ;Ele está chegando no limite;, frisou.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique