Vicente Nunes, Rodolfo Costa
postado em 26/10/2015 07:45
A secretária Sandra Conforti, 56 anos, não se esquece do que a avó lhe dizia sempre que conversavam sobre dinheiro. ;Todas as vezes que eu tocava no assunto, relatando minhas dúvidas em relação à poupança para o futuro, ela me dizia: jamais aplique em bolsa de valores;. A justificativa, lembra Sandra, era de que um primo da avó perdeu todo o dinheiro comprando ações. ;Ele ficou sem nada. Foi um sufoco para a família. Diante disso, acabei traumatizada. Nunca investi em bolsa porque sempre tive medo;, afirma.Como Sandra, são muitos os brasileiros que veem no mercado acionário um sinônimo de prejuízo. Por mais que os investimentos em ações tenham se popularizado nos últimos anos, a bolsa de valores ainda é associada a um jogo, um cassino em que os pequenos não têm vez. ;A impressão que tenho é de que tudo está preparado para uns poucos ganharem. Prefiro deixar meu dinheiro seguro na caderneta de poupança. O rendimento é baixo, perde para a inflação, mas é garantido;, diz.
Sandra reconhece que nunca procurou se informar melhor sobre o mercado de ações. ;Sei de amigos que destinam até 30% da poupança deles para a bolsa. Vejo isso, sobretudo, no meu trabalho. Mas não entendo nada do que eles falam. Usam termos complicados para pessoas leigas como eu;, ressalta. Além disso, alguns contam que estão perdendo dinheiro. ;Um deles optou por deixar parte da previdência privada em ações. Há períodos em que, mesmo fazendo a contribuição, ele tem menos dinheiro que no mês anterior. Não quero isso para mim;, acrescenta.
Apesar de o colega de trabalho ter dito à secretária que as perdas são temporárias, que, com o tempo, ele vai recuperar o que perdeu e ainda aumentar o patrimônio, ela não acredita. ;Esse negócio de ações não me convence;, enfatiza. Para o economista Alexandre Póvoa, presidente da Canepa Asset Brasil, é fácil compreender a desconfiança de Sandra e de milhões de brasileiros em relação à bolsa de valores. ;Desde 2009, o mercado vem registrando resultados ruins. Mesmo nos anos em que o saldo foi positivo, os rendimentos ficaram bem abaixo das taxas de juros;, afirma.
Na visão de Póvoa, será preciso um longo trabalho de educação para convencer os brasileiros de que parte dos investimentos deve, sim, ir para o mercado de ações, pois, ao longo do tempo, o retorno é garantido. Ele ressalta que, nos períodos em que a estabilidade econômica prevaleceu, a inflação ficou sob controle e o país cresceu, o número de investidores na bolsa aumentou muito. Hoje, porém, está decrescendo, totalizando pouco mais de 500 mil pessoas. Muitas trocaram o sobe-e-desce do mercado pelo conforto dos juros altos pagos pelos títulos públicos por meio do Tesouro Direto. As taxas chegam a 17% ao ano.
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