Sem condições de dar continuidade a suas operações em Mariana, o futuro incerto da Samarco é a nova preocupação não só da própria companhia e investidores, mas também para os trabalhadores e a população do município. Com o embargo das atividades da mineradora, que o governo estadual anunciou ontem à tarde, a Samarco amanheceu hoje com 85% de seus empregados em licença remunerada. Nota encaminhada pela empresa ao Estado de Minas confirma a dispensa temporária da expressiva parcela do quadro de pessoal da unidade mineira de Germano e da planta industrial de Ubu, no Espírito Santo, mas não informou o número total.
[SAIBAMAIS]Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras da Samarco de dezembro de 2014 menciona 3 mil empregados diretos e 3,5 mil indiretos. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Metabase) de Mariana informou ainda ontem ter sido comunicado pela mineradora de que a licença remunerada será válida até dia 30, seguida de férias coletivas até 4 de janeiro de 2016. Trabalhadores das empresas prestadoras de serviços à mineradora, da mesma forma, já estão sofrendo as consequências da suspensão de contratos, segundo o presidente do sindicato Metabase, Ronaldo Bento.
O embargo das atividades da Samarco na mina de Germano, onde houve o rompimento das barragens do Fundão e de Santarém, na quinta-feira, foi determinado em caráter preventivo, segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sávio Souza Cruz. ;A empresa só poderá retomar as atividades após a apuração e a adoção de medidas de reparo dos danos provocados;, declarou.
No fim de semana, a Samarco havia informado aos investidores que vai suspender as operações na unidade de Ubu, no município capixaba de Anchieta ;ao final dos estoques de minério, bem como as operações de embarque;. As atividades da companhia são estruturadas com a unidade mineira de exploração e beneficiamento de minério de ferro, transportado por minerodutos de 400 quilômetros de extensão à planta do Espírito Santo, onde a matéria-prima é transformada em pelotas e embarcada ao exterior em terminal portuário próprio.
Seis meses
Fontes do setor minero-metalúrgico ouvidas pelo EM, que preferem o anonimato, acreditam que a mineradora precisará de mais de seis meses a um ano para definir como poderá voltar à operação e só terá como retomá-la completamente dentro de três anos, depois de enfrentar um novo processo de licenciamento que tende a ser mais complicado. A preocupação adicional ao atendimento das vítimas da tragédia tanto por parte do sindicato local dos trabalhadores quanto dos empresários do município é com a retomada das operações após esclarecidas as causas do acidente, devido à importância da empresa para a geração de empregos e renda em Mariana e região.
;Está claro que houve erro e falha humana e isso tem de ser reparado, assim como temos de pensar nas vidas, neste primeiro momento. Num segundo plano, contudo, é preciso buscar uma retomada da empresa;, afirmou o presidente do Sindicato Metabase. Entre empregos diretos e indiretos, a mineradora responde pela manutenção de cerca de 10 mil pessoas em Mariana, que tem 55 mil habitantes, pagando salário médio de R$ 4,2 mil. A Samarco ainda emprega profissionais que moram em Ouro Preto, Santa Bárbara, Catas Altas e Barão de Cocais.
RAIO-X
Perfil da mineradora em 2014
25,129 milhões de toneladas de ferro exportadas
Exploração mineral em Mariana e usinas em Ubu (ES), três minerodutos ligando as duas unidades com 400 quilômetros de extensão cada um, escritórios comerciais no Brasil e no exterior, uma usina hidrelétrica em Muniz Freire (ES)
3 mil empregados diretos e 3,5 mil contratados nas empresas prestadoras de serviços
R$ 7,601 bilhões de faturamento bruto
R$ 2,805 bilhões de lucro líquido
Fonte: Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras de 31/12/2014