Rio de Janeiro ; Brasil está saindo da recessão para mergulhar na depressão econômica, fato que não se vê desde os anos de 1930 e 1931, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu por dois anos seguidos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou ontem um quadro dramático, com retração em todos os setores que contribuem para a geração de riqueza no país. A combinação da incapacidade do governo de resgater a confiança de empresários e consumidores com uma crise política sem precedentes levou o PIB do terceiro trimestre a registrar queda de 1,7% ante os três meses imediatamente anteriores e de 4,5% em relação ao mesmo período de 2014. Foram os piores resultados desde 1996, quando se começou a fazer esse tipo de medição. No acumulado do ano, o tombou chegou a 3,2% e, em 12 meses, a 2,5%.
Os números surpreenderam os especialistas, que, na média, previam retração de 1,2% frente ao segundo trimestre. Com isso, praticamente todo o mercado financeiro revisou, para pior, as projeções para este ano e para 2016. Em vez de 3,5%, o Itaú Unibanco prevê, agora, queda de 3,7% para 2015 e contração de 2,5% no ano que vem. O economista-chefe do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, passou a trabalhar com tombo de 3,8% neste ano e de 3% em 2016. Para os analistas, na melhor das hipóteses, a recuperação virá em 2017. Mas há quem estime queda do PIB também naquele ano, como o economista-chefe da GO Associados, Alexandre Andrade, que vê retração de 0,3%.
Quando se compara o PIB sempre com o mesmo período do ano anterior, a atividade está em contração há seis trimestres seguidos. Não se vê um período tão longo de queda desde a virada dos anos 1980 para os de 1990 ; foram 11 trimestres negativos. Para os últimos três meses de 2015, as estimativas variam entre retração de 0,9% e 1,1%. ;Infelizmente, ainda não chegamos ao fundo do poço;, afirmou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. A partir de agora, o desemprego vai se acelerar. Nos 12 meses terminados em junho de 2016, pelo menos 2,6 milhões de vagas com carteira assinada terão sido fechadas.
Esteves e Mariana
O aumento do desemprego, por sinal, foi determinante para que a crise batesse com tudo no orçamento das famílias. O consumo dos lares completou o terceiro trimestre seguido de queda. Sem demanda, e com estoques elevados, o setor produtivo suspendou os investimentos. A contração dos desembolsos para a expansão das fábricas foi espantosa: 15% entre julho e setembro em relação aos mesmos três meses de 2014. Os analistas veem problemas maiores à frente, devido à prisão do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, que pode provocar uma nova redução no crédito, e do desastre ambiental provocado em Mariana (MG) pela Samarco, controlada pela mineradora Vale, cujos investimentos estão em queda há seis anos.
;A economia está pedindo socorro;, alertou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que prevê retração do PIB de 3,5% em 2015 e de 2,6% em 2016. Para ele, há uma espiral de más notícias que está empurrando a atividade para o atoleiro. Segundo o IBGE, os dados do terceiro trimestre só não foram piores devido ao aumento de 0,3% no consumo do governo ante abril e junho e à ligeira melhor das exportações. Como as importações desabaram, o setor externo deu contribuição positiva para o PIB.
Na avaliação da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, não será surpresa se o PIB fechar este ano com queda de 4%. Tal possibilidade aumentou diante das revisões feitas pelo IBGE nos resultados dos primeiro e segundo trimestres. Os tombos aumentaram, respectivamente, de 1,6% para 2% e de 2,6% para 3% na comparação com os mesmos períodos do ano anterior. Segundo Alessandra, nem no governo Collor de Mello, deposto por corrupção, se viu um quadro tão devastador. Para Sergio Vale, da MB Associados, o Brasil só sairá da recessão mais rapidamente com mudança política. ;Se a presidente Dilma Rousseff continuar, seguiremos com retração no PIB até 2017;, frisou.
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