Economia

Inflação dispara, chega a 10,48% em 12 meses e produtos ficam mais caros

Há 12 anos não se via o custo de vida aumentando na casa de dois dígitos por ano. Apenas em novembro, a carestia subiu 1,01%

postado em 10/12/2015 06:03


O custo de vida voltou a ganhar força no fim de ano. A alta de 1,01% em novembro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a maior para o mês em 13 anos. Nos últimos 12 meses, o aumento chegou a 10,48%, retratando um fenômeno que há 12 anos não se via: desde novembro de 2003, a inflação não atingia dois dígitos.

;O número é brutal. Vivemos um processo inflacionário pesado, em um contexto de depressão econômica. Essa é a combinação mais indesejada para os trabalhadores;, alertou o professor Jorge Arbache, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). Entre janeiro e novembro deste ano, o custo de vida subiu 9,62%. Outro sinal inquietante é que a carestia não resulta da alta pontual de um ou outro item. Ela está disseminada: oito em cada 10 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE ficaram mais caros em novembro. Nos últimos 12 meses, metade da alta veio de alimentos, combustíveis e energia elétrica.

Gastos

Grupo mais importante no orçamento das famílias, abrangendo um quarto das despesas da população, os alimentos responderam por um terço das elevações de preço durante o ano. ;Itens básicos e importantes para a saúde estão impulsionando a inflação, como frutas, verduras e legumes;, observou Arbache. Na lista de produtos que ficaram mais caros no mês passado, segundo o IBGE, estão batata-inglesa (27,46% de aumento no mês), tomate (24,65%), cebola (10,39%) e alho (6,22%). O resultado é que as pessoas estão tendo que diminuir a qualidade das refeições.

Para conseguir manter as frutas e as verduras na lista de compras, a dona de casa Valquíria Teles, 49 anos, tem precisado rodar os mercados em busca de promoções. ;Antes, eu fazia feira para o mês inteiro, com dois carrinhos cheios e preços não tão altos. Agora, não dá mais;, lamentou. Até o começo do ano, os gastos dela no mercado não ultrapassavam R$ 150 por mês. Hoje em dia, não saem por menos do que R$ 500. Outra despesa que tem pesado no orçamento tem sido energia elétrica.;A conta de luz está cada vez mais assustadora. Em menos de seis meses, quase triplicou;, disse Valquiria, indignada.

Enquanto os alimentos ficaram 11,56% mais caros nos 12 meses encerrados em novembro, a energia elétrica teve alta de 51,27%, tendo sido a maior influência na alta do IPCA no período. ;Em 2014, os maiores culpados pela inflação eram os serviços. Neste ano, as razões foram mais variadas, com pressão dos preços administrados e monitorados, que subiram muito;, explicou a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.

É o caso da gasolina, que subiu 3,21% em novembro, após alta de 5,05% em outubro. Fugir do aumento nos postos tem se tornado um desafio para os brasileiros. O funcionário público Carlos Eduardo Marques, 56 anos, diz estar quase trocando os dois carros que possui por um só, mais econômico. ; Só não me desfaço de vez do carro porque preciso dele para trabalhar;, disse. Ele conta que, até setembro, gastava R$ 180 para encher o tanque. Hoje em dia, são, pelo menos, R$ 200. Para Carlos, a sensação é de insegurança ;A gente já não sabe o dia de amanhã. O que pode comprar, o que vai aumentar, o que pode gastar se tornaram dúvidas de todos os dias;, lamentou.

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