Antonio Temóteo, Simone Kafruni
postado em 20/12/2015 08:00
Não será fácil a vida de Nelson Barbosa à frente do Ministério da Fazenda. Ele assumirá a pasta amanhã com a economia numa situação muito pior do que a encontrada por seu antecessor, Joaquim Levy. A inflação dá sinais de descontrole e já encosta nos 11%. A recessão se aprofundou e, agora, o consenso é de que serão pelo menos dois anos seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) ; 2015 e 2016. Nada disso, porém, perturba mais os agentes econômicos do que o passado do ministro, que, quando esteve na Fazenda, como secretário executivo, foi mentor de várias das medidas que ampliaram os gastos públicos e destruíram os cofres do Tesouro Nacional, entre elas, as desonerações da folha de pagamento e a redução do preço da energia elétrica. Neste momento, Barbosa é o maior inimigo de Barbosa.
;Estamos diante de um problema de reputação;, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. ;Barbosa participou da equipe econômica que levou o país para a gravíssima situação que estamos vivendo. Ele precisa mostrar que mudou e realmente está comprometido com o ajuste fiscal que, agora, promete;, acrescenta. Na avaliação dela, o novo ministro terá que aprender a dizer não para os pedidos de aumento de gastos. Como ele tem uma imagem de ser mais flexível em relação ao equilíbrio das contas públicas, haverá pressões por todos os lados, de governadores, de prefeitos, de movimentos sociais e de empresários. ;Será que ele conseguirá resistir?;, indaga. ;Não se pode esquecer de que 2016 será um ano de eleições, e as pressões por aumentos de despesas ficam mais fortes em períodos como esse;, acrescenta Zeina.
A desconfiança quanto à capacidade de Barbosa de tirar o país do atoleiro se sustenta, ainda, no fato de o governo não ter um projeto de longo prazo para arrumar as finanças do país. ;Tudo o que foi apresentado até agora é paliativo;, afirma Zeina. Mais que isso: mesmo que o novo chefe da equipe econômica venha a apresentar algum projeto, não se sabe se o governo terá força para aprová-lo. As energias do Palácio do Planalto estão concentradas para evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. E, mesmo que ela consiga sobreviver a esse julgamento, a percepção é de que o governo estará fragilizado pelo desembarque do PMDB da base aliada.
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