Economia

Queda na natalidade reduz número de habitantes em municípios

Baixo número de filhos é um fenômeno generalizado em todo o país, que, aliado à falta de oportunidades profissionais em cidades de várias regiões, leva ao êxodo e à redução no número de habitantes

Paulo Silva Pinto - Enviado Especial
postado em 28/12/2015 06:00


Goiás e Itaberaí (GO) ; Vai longe o tempo em que as ruas cheias de crianças brincando eram uma cena comum no Brasil. Até mesmo nas bucólicas cidades do interior essa é uma visão rara atualmente. A natalidade caiu em todas as classes sociais e também de modo amplo do ponto de vista geográfico. Embora as diferenças regionais persistam, não se pode dizer que o número de filhos impressione em qualquer parte do país.

Apenas a Região Norte persiste integralmente com uma taxa de fecundidade ; número de filhos que as mulheres têm ao longo da vida ; acima de 2,10 (leia quadro ao lado). Esse é, pelos padrões internacionais, o nível de reposição populacional, já que os filhos são resultado de duas pessoas. O número não é redondo porque leva em conta a reserva necessária para compensar os nascidos que não conseguirão viver até a idade reprodutiva.

O Nordeste, que teve forte crescimento populacional até o passado recente, contribuindo para povoar o Norte, o Sudeste e o Centro-Oeste, tem hoje apenas dois estados com média de fecundidade acima do nível de reposição: Maranhão (2,56) e Alagoas (2,22). Quando a comparação é com a fecundidade média do mundo (2,55), apenas três estados ficam acima: Acre (2,95), Amazonas (2,59) e Maranhão (2,56). Mesmo assim, isso provavelmente não vai durar muito tempo, porque essa taxa caiu com grande velocidade nos últimos anos.

;Tenho pena desses pais e mães de hoje;, diz a dona de casa Geralda Luiza Botelho, 78 anos, moradora de Goiás. Ela se casou quando tinha 14 anos e o marido, 19. Tiveram nove filhos. ;É muito mais difícil criar as crianças agora. O mundo está muito difícil. Acho que, se fosse hoje, eu teria só dois filhos;, afirma.

Sonhos
Em uma família grande, tudo é festa. Os encontros de Natal duram dias. Geralda mora ao lado de um casarão onde viviam os sogros. O local é uma espécie de memorial e área de lazer da família. No fim de uma tarde quente de dezembro, Geralda conversa com a filha Edmar, despachante, e com a nora Joana D;Arc, artesã. Há pouca gente na rua, sobretudo crianças. Às vezes, a calmaria é interrompida pelo som alto de um carro de som fazendo propaganda.

Edmar e Joana D;Arc são mães de apenas dois filhos, o que mostra a queda de natalidade de uma geração para a outra. Luna, 14 anos, bisneta de Geralda e sobrinha das outras duas, não tem a menor ideia do momento em que vai constituir família. Só sabe que continuará estudando. ;Acho que vou fazer engenharia;, diz.

A baixa natalidade alia-se a outro fenômeno, a migração, que tem feito muitas cidades do país encolherem. Entre 2000 e 2013, 21,1% dos municípios do país tiveram redução no número de habitantes. O Rio Grande do Sul liderou a queda, com 211 cidades. Mas o fenômeno está longe de ser exclusivo de um estado ou região. Minas Gerais, que tem o maior número de municípios do país, vem em segundo lugar, com retração em 183 localidades. O estado de Goiás ficou em quinto, com 64 cidades encolhendo.

A cidade de Goiás, antiga capital do estado, registrou diminuição de 8,6% no número de habitantes no período. Com riquíssimo patrimônio cultural, incluindo a casa onde viveu a escritora Cora Coralina, o município carece de serviços voltados para o turismo. Uma das dificuldades da cidade é o fato de um dos municípios vizinhos, Itaberaí, ter atraído uma grande fábrica, a Superfrango. Não por outra razão, a população ali não diminuiu entre 2010 e 2013: aumentou 37,1%. Muitos dos habitantes de Goiás foram para lá trabalhar. Depois, acabaram levando as famílias.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação