O Brasil envelhece e encarece. Com uma população idosa crescente, os brasileiros precisam se preparar para um aumento no custo de cuidados médicos, seja por meio de planos de saúde mais caros, seja pelo maior desembolso com tributos.
Tudo se agrava devido ao nosso desenvolvimento ainda incompleto. “Juntamos dois tipos de problemas: as doenças crônico-degenerativas ficam mais caras e não nos livramos das infectocontagiosas”, afirma Alexandre Marinho, professor de economia da saúde da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
As crianças e adolescentes de até 14 anos representam hoje 23,19% da população. Os que têm mais de 60 anos são 11,71%. Os dois grupos representam as pessoas dependentes, bancadas pelos adultos que trabalham, que sustentam a família e o Estado.
Em 2029, a faixa dos mais velhos ultrapassará a dos mais novos, e, daí para a frente, a primeira continuará a diminuir e a segunda, a aumentar. Engana-se, porém, quem vê aí um jogo de soma zero, em que uma coisa compensa a outra. O problema é que os idosos custam muito mais do que os jovens. As estimativas variam, mas, em geral, costuma-se projetar que o valor médio para tratar um idoso é o dobro do que se gasta com uma criança.
Na infância, livrar-se de doenças tem muito mais a ver com a prevenção, incluindo higiene, nutrição e vacinas. Mesmo uma infecção costuma ser resolvida com o uso de antibiótico por pouco tempo. Para os mais velhos, os remédios são caros e precisam ser usados por longos períodos, às vezes de forma perpétua.
A esperança de vida dos brasileiros subiu muito, embora seja inferior à de alguns países sul-americanos, como Uruguai e Chile. No início do século, a expectativa ao nascer era chegar aos 70,28 anos. Hoje, é de 75,44 anos. E chegará a 81,20 anos até 2060, limite das estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O efeito colateral de viver mais é enfrentar mais doenças. Uma pessoa que morre por uma pneumonia com 60 anos, algo muito mais raro hoje do que no passado, deixa de ser acometida pelo câncer que outra pessoa da família teve aos 70. O aumento da longevidade é considerado uma das razões para o fato de a ocorrência de neoplasias ter praticamente dobrado no Brasil em relação ao número de habitantes nas últimas duas décadas.
Complexidade
Com o aumento da tecnologia, tratamentos tendem a ficar mais complexos e caros — em casos de ataque cardíaco, por exemplo, muitas vezes a vítima é socorrida de helicóptero. E deixar de optar por um desses procedimentos mais custosos não é como escolher entre um carro com mais ou menos acessórios. “Se o procedimento está disponível e será usado, não importa o preço”, diz Marinho.
O Brasil já possui um sistema de saúde caro, que consome 10% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo sem ter um terço da população de idosos, como previsto para 2060. Em países europeus, a conta chega a 13%. Gasto nem sempre é sinônimo de qualidade: nos Estados Unidos, com um sistema que deixa a desejar em relação a outros locais desenvolvidos, a conta total chega a 16% do PIB.
É certamento possível reduzir custos com maior eficiência. No Hospital São Pedro, instituição de quase dois séculos em Goiás (GO), o número de internações, que às vezes até ultrapassava a lotação máxima, foi drasticamente reduzido. “O objetivo, em muitos casos, era só tirar dinheiro do governo”, conta o presidente da associação que mantém o hospital, Frei Marcos, 85 anos. A queda no movimento não significa redução na complexidade dos tratamentos. A instituição é a única com tomografia na cidade e na região e está prestes a comprar um aparelho de ressonância.
Frei Marcos era Benedito Lacerda de Camargo antes de se tornar frade dominicano. Nascido em uma fazenda às margens do Rio Araguaia, estudou na Europa e voltou ao Brasil durante a construção de Brasília, quando atuou como pároco na Vila Planalto — a igreja de madeira, histórica, foi construída quando ele estava lá.
Ele trabalha ao menos 10 horas por dia entre atividades sacerdotais e administrativas — é sempre acionado em decisões importantes, por isso não desgruda do celular. “Mas também descanso bastante. Gosto muito de dormir”, conta. Atribui sua saúde à constante atividade. “A gente é como bicicleta. Não pode parar de pedalar”, diz. Embora seja uma exceção em sua faixa etária, o exemplo demonstra o que especialistas em população destacam: o conceito de idoso precisa mudar. Não faz sentido reservar vagas especiais de estacionamento a quem tem mais de 60 anos. Aos 70 ou 75, muitos podem trabalhar, ainda que com intensidade menor do que antes.
O professor da Universidade de Oslo Jorgen Randers vê aí uma solução para o cuidado de idosos em casas de repouso. “Muito do trabalho nesses locais é entretenimento e pode ficar a cargo de pessoas de 70 anos. Isso revolve o problema de emprego delas e também o aumento da demanda por atenção a quem tem 85 ou 90 anos, um grupo cada vez maior”, diz ele, que é autor do livro 2052 — Previsões para os próximos 40 anos.
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