Economia

País fecha o ano com 59 milhões de pessoas inadimplentes

Em época de crise é preciso ficar alerta para escapar do endividamento

postado em 31/12/2015 11:19
O biólogo José Washington Aguiar conta que nunca enfrentou problemas tão difíceis

Até agosto passado, conforme dados da Serasa Experian, 57,2 milhões de pessoas tinham faturas com atraso superior a 90 dias. O dado parou de ser computado pela entidade devido a mudanças na legislação do Estado de São Paulo, que obriga o envio de carta registrada ao consumidor antes que ele tenha o nome incluído no cadastro de inadimplentes. No entanto, prognóstico feito pela Associação Nacional dos Birôs de Crédito (ANBC) indica que a inadimplência continua em alta, impulsionada pelo desemprego, que subiu para 8,9% no terceiro trimestre e só deve começar a cair em 2017. Pelas estimativas do consultor Roberto Luis Troster, o número de calotes chega a 59 milhões atualmente.

[SAIBAMAIS]O biólogo José Washington Aguiar faz parte dessa triste estatística. Ele conta que nunca enfrentou problemas tão difíceis. ;Estou com muitas pendências, meu nome está sujo devido ao uso de cartão de crédito e de empréstimos;, explica. A dívida dele ronda R$ 5 mil e os pagamentos já chegam a comprometer 80% do salário. ;Acabou o lazer para mim. Antes, eu frequentava bares e restaurantes, mas, hoje, opto por lugares em que não preciso gastar dinheiro, como parques, por exemplo.;

A família do microempresário Roberto Leite, 36 anos, é outra vítima dos juros exorbitantes do cartão de crédito. ;Por conta disso, tivemos que conter despesas até com comida;, lamenta. Antes das dificuldades financeiras, a família gastava R$ 1.200 com alimentação. Hoje, o valor se limita a R$ 700. ;No ano que vem, vamos nos organizar melhor. Quitar as dívidas virou a nossa prioridade;, disse.

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Michele Vieira, 24 anos, atendente em uma loja de doces, ultrapassou o limite do cartão de crédito quando viajou. ;A pendência já foi quitada, mas me descontrolei de novo e acabei fazendo uma nova dívida, em setembro;, explica. Michele mora com o marido e o filho de 8 meses. A renda da família é de R$ 1.300, e a dívida ultrapassa R$ 3 mil. ;Tivemos que diminuir as compras do mês e os gastos com o bebê. O lazer não faz mais parte da nossa vida, pelo menos por enquanto;, conta. Ela pretende parcelar a dívida em 10 vezes, mas diz que vai continuar usando o cartão. ;O salário não sustenta todos os gastos. Fica difícil pagar tudo no débito;, argumenta.

A comerciária Zuraide Teixeira, 54, perdeu o emprego há dois anos. Acabou contraindo uma dívida que hoje, com os juros, chega a R$ 20 mil. O banco ofereceu a ela quitar o débito por R$ 4 mil. ;Mas nem isso eu tenho, então, não consegui me livrar. Agora, só se eu ganhar na Mega-Sena;, diz. O salário de Zuraide não passa de R$ 2 mil e, só o aluguel é de R$ 850. ;Eu ainda gasto R$ 250 com remédios todo mês. Não consigo ver solução para a dívida, já que meu salário é só para pagar conta e comer;, lamenta. ;Minhas duas filhas ajudam no que podem;, conta. (Colaborou Rosana Hessel)

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