Agência Estado
postado em 17/01/2016 20:16
Anunciada na última sexta-feira pelo diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, a possível venda da subsidiária de logística, Transpetro, não foi discutida ou aprovada pelo Conselho de Administração da estatal. O tema também não passou pelo colegiado da própria subsidiária. Representantes dos trabalhadores em ambos os colegiados divulgaram nota neste domingo (17), solicitando "imediatos esclarecimentos" sobre a negociação, classificada como uma "insubordinação em relação às instâncias decisórias da companhia".Em uma semana de derrocada das cotações internacionais do petróleo, fechando em média a US$ 29, e das ações da Petrobras no mercado financeiro, que recuaram 21% nas primeiras semanas do ano, o diretor Monteiro anunciou na sexta-feira (15) a análise inicial, feita por um banco, para a venda da subsidiária, responsável por uma frota de 54 embarcações e pela gestão de 49 terminais logísticos, além da rede de oleodutos. A opção por intensificar a venda de ativos de infraestrutura, com valor de mercado sem relação com a cotação de óleo, foi um novo aceno aos investidores. Na terça-feira (12), a companhia já havia anunciado cortes de US$ 32 bilhões em investimentos, redução da meta de produção e revisão das premissas financeiras para os próximos três anos.
Em nota publicada em sua página, o conselheiro Deyvid Bacelar criticou a negociação da subsidiária e o anúncio feito antes de deliberação nos conselhos e comitês internos de análise de projetos. Bacelar ressaltou que a "pressa em divulgar medidas não discutidas no Conselho" demonstra "inabilidade da diretoria na análise da conjuntura política e econômica do País".
"As vendas de quaisquer ativos da Petrobras são discutidas internamente, contudo, essas decisões passam pelo Comitê Estratégico (Coest) e, depois, pelo conselho de Administração (. .) Reafirmo que a situação de venda de novos ativos não foi discutida nas reuniões do Conselho", diz o comunicado. "A ;publicização; desses fatos apenas gera especulações, afeta o ambiente de mercado, bem como o clima da companhia, comprovando uma clara insubordinação da Diretoria em relação às instâncias decisórias da companhia", completa.
Em campanha pela reeleição no colegiado da Petrobras, Deyvid Bacelar comparou o plano de venda de US$ 14,4 bilhões em ativos como a BR Distribuidora, Braskem, Fábrica de Fertilizantes (Fafens) e a Transpetro, como um "desmonte" e "privatização" da empresa, indicando que as subsidiárias atuam em segmentos de grande rentabilidade. O conselheiro lembrou que no Orçamento da União para 2016 os recursos destinados à Transpetro foram reduzidos em R$ 1 bilhão frente ao último ano. Também na BR Distribuidora, o orçamento destinado foi reservado "para fins de manutenção".
Bacelar criticou o diretor financeiro Ivan Monteiro de não cumprir o "papel de articular ações da companhia às estratégias do acionista majoritário", ao negar a possibilidade de capitalização pelo governo federal. Na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff sinalizou que o governo poderá socorrer a empresa se os preços internacionais de petróleo continuarem em queda.
"As pressões contínuas de uma vasta gama de atores sociais que desejam a privatização da Petrobras e, dessa forma, fazem uso da instabilidade política atual da empresa para tentar desmontá-la", argumenta o conselheiro no documento. "Se nem no governo FHC conseguiram fazer isso, não será no governo Dilma que irão desmontar a maior empresa de capital aberto produtora de petróleo do mundo", diz a nota.
Raildo Viana, representante dos trabalhadores no colegiado da Transpetro, se disse surpreendido com a "alarmante" notícia da venda da subsidiária "como todos os colegas trabalhadores da Transpetro". "Estou pedindo maiores e imediatos esclarecimentos tanto à diretoria financeira da Transpetro como também ao próprio Conselho de Administração da companhia. Registro meu repúdio total a esta iniciativa", reiterou.
A Transpetro foi criada em 1998, na esteira das mudanças no marco regulatório do setor, promovidas no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que acabaram com o monopólio estatal no setor de petróleo. À época, a separação do braço de logística da estatal foi criticado pelos sindicalistas como um passo para a privatização da empresa. A subsidiária é responsável pela gestão de 49 terminais logísticos, a rede nacional de oleodutos e também opera embarcações de transporte de óleo offshore, com uma frota de 54 navios.