Rosana Hessel
postado em 28/01/2016 16:31
Empresários que chegavam ao Palácio do Planalto para participar da reabertura do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, nesta quarta-feira (28/01) mais conhecido como Conselhão, depois de 19 meses sem uma única reunião, não estavam muito animados com o encontro com a presidente Dilma Rousseff, que tenta resgatar a popularidade em baixa com essa plataforma de diálogo que ela ignorou por quase dois anos. De acordo com o Palácio do Planalto, teve 70% da sua composição remodelada.[SAIBAMAIS];Vamos ver o que a presidente vai dizer. Espero que não seja mais do mesmo;, confessou um dos integrantes do Conselho, pedindo anonimato. Outro empresário também demonstrou ceticismo e estava feliz de não ter sido escalado para falar e defender o governo. De acordo com a programação, haverá a fala de oito representantes da sociedade civil, incluindo empresários e sindicalistas. Depois falarão cinco ministros: Nelson Barbosa (Fazenda), Alexandre Tombini (Banco Central), Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Kátia Abreu (Agricultura) e Valdir Simão (Planejamento).
Na avaliação do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, o anúncio de medidas contra a crise ;vai depender da dinâmica do Conselho;. ;Não acredito que a gente consiga num fórum tão eclético um consenso e construir políticas e propostas adequadas que o país precisa. Acho que o governo tem que trabalhar e trazer propostas, porque ele tem mecanismos para o que o país está precisando, e contar com esse Conselho para dar referência e legitimidade das propostas que ele quer implementar;, afirmou Andrade.
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Para ele, o anúncio de um pacote de medidas de estímulo ao crédito que pode chegar a R$ 60 bilhões e que foi adiantado pela Fazenda que será apresentado durante o Conselho ;sempre cabe, mas o Brasil precisa de outras medidas;. ;O país precisa de medidas mais eficazes e reformas contundentes das reformas da Previdência, da trabalhista, tributária e administrativa. Acho que essas reformas vão dar sustentabilidade para uma política de longo prazo;, disse ele, acrescentando a necessidade de o governo também trabalhar políticas microeconômicas que autem rapidamente para alavancar o consumo e melhorar a situação do emprego e da atividade industrial.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, foi um dos quatro representantes do empresariado convidados a falar durante a abertura do Conselhão. Ele adiantou que falará sobre a importância do governo fazer ajuste fiscal, mas também sobre a busca de alternativas para o país sair da recessão. ;Temos convicção de que vamos buscar medidas convergentes pró-ajuste fiscal. Todos sabemos a importância do ajuste, mas cada um dos conselheiros tem ideias pro Brasil que não prejudicam o ajuste fiscal;, completou.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, demonstrava frustração com pouca visibilidade do pacote de crédito para o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), que pelas informações da Fazenda, seria em torno de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões, valor que não ultrapassa o que já estava previsto no Orçamento de 2016. ;O importante seria que esse pacote chegasse a R$ 20 bilhões;, afirmou.
O empresário do setor de Tecnologia da Informação, Marco Stefanini, demonstrou preocupação com o aumento da carga tributária do setor, que dobrou com as mudanças das regras da desoneração da folha de pagamentos, e, algumas empresas do setor já começaram a demitir. ;A taxa do INSS passou de 2% para 4,5%. Ainda não chegamos a demitir, mas estamos tentando sobreviver em meio ao ambiente recessivo da economia;, disse.
Abertura
A reunião foi aberta pouco depois das 14h30 pelo ministro-chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, que empossou Dilma como presidente do Conselho. Logo em seguida, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, foi o primeiro a falar. Ele deu boas vindas à volta do Conselhão e destacou a importância da retomada dessa iniciativa. ;A relevância desse Conselho é o traço de pluralidade e ela é irmã gêmea da tolerância, um dos ativos mais desejados e em falta hoje na sociedade brasileira;, destacou.
Trabuco demonstrou preocupação com a situação econômica do país. ;Hoje temos uma pauta única no Brasil. O que nos angustia é como tirar o país da recessão;, avisou ele, afirmando que cada um dos presentes eram protagonistas e tinham uma parcela de responsabilidade pela conjuntura atual. ;Todos somos perdedores. Pois, na recessão. Todo mundo perde;, afirmou. O banqueiro sinalizou a defesa do tripé macroeconômico (que foi abandonado pelo atual governo com a ideia da ;nova matriz macroeconômica;) como base para garantir que a economia tenha crescimento posterior. ;Para a retomada é preciso acabar com a crença de dirigir um carro com os faróis voltados para a ré;, disse ele, pouco antes de a transmissão ser cortada.