Agência Estado
postado em 31/01/2016 10:18
O retorno ao crescimento econômico no último trimestre deste ano, como acredita o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, divide opiniões de economistas. Os mais céticos avaliam que isso é improvável porque o consumo das famílias e os investimentos continuarão em queda em 2016 com agravamento da recessão, que deve levar o PIB a uma queda de 3% neste ano.Por outro lado, vários especialistas acreditam no início de uma gradual recuperação da atividade no período entre outubro e dezembro, na margem. Para eles, isso ocorrerá por fatores como o fim de incertezas em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e a depreciação do câmbio, que pode ajudar ainda mais na substituição de importados por produtos nacionais.
Para os economistas céticos, a deterioração da demanda agregada, deve diminuir ainda mais o consumo e o investimento e impedirá crescimento em qualquer dos trimestres deste ano. Esse quadro deve também elevar o desemprego para uma marca superior a 11% até dezembro.
Silvia Matos, economista do Ibre/FGV, estima com uma queda de 3% do PIB neste ano haverá destruição líquida de 2,2 milhões de empregos formais. "O cenário muito negativo para a atividade levará a uma alta expressiva do desemprego em todos os setores produtivos, inclusive em serviços", comentou. Ela projeta que a taxa de desocupação medida pela Pnad Continua deverá alcançar 12,3% no quarto trimestre e a média do ano será de 11,7%.
Vários economistas apontam que o PIB entre janeiro e junho será pressionado negativamente pelas dúvidas sobre a governabilidade do País, causadas principalmente pela possibilidade de impeachment da presidente Dilma. Contudo, alguns ponderam que, na segunda metade do ano, o nível de atividade pode parar de cair e engatar ligeiro avanço entre outubro e dezembro.
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências, estima que a economia cairá 0,1% de julho a setembro, mas deverá subir 0,1% no último trimestre do ano. Ela pondera, contudo, que há riscos de piora para o PIB e a inflação ao final do ano, "relacionados à gestão macroeconômica".
A economista destaca que o IPCA deve atingir 9% nos 12 meses encerrados em março e voltar para nível abaixo de 8% a partir de outubro e fechar o ano em 7%. Na sua avaliação, a melhora da administração das contas públicas, com corte de gastos correntes, é o elemento mais importante para melhorar as expectativas dos agentes econômicos sobre a área fiscal e a inflação, o que ajudaria muito a reduzir juros futuros e conter depreciações intensas do câmbio. "Mas o governo sinaliza que retomará a política de estímulo ao crédito pelos bancos públicos, o que não será eficiente e terá impactos no Tesouro", apontou.
Os especialistas que apostam em recuperação do PIB a partir do último trimestre acreditam que o câmbio será o fator fundamental para isso. Considerando que não ocorra em 2016 uma depreciação tão forte quanto em 2015, que ficou próxima de 50%, "consumidores e empresários avaliarão que a economia ficará mais estável e menos sujeita a pressões de alta inflação", comentou Braulio Borges, economista-chefe da LCA. Ele estima que o dólar deve atingir R$ 4,15 em dezembro, uma variação nominal de 6,27% no ano. "Além disso, as contas externas devem continuar a avançar, sobretudo com a redução das importações, o que estimulará a produção doméstica a ocupar o lugar de mercadorias vindas do exterior."
Retomada
Juan Jensen, sócio da consultoria 4E, espera alta de 0,2% para o PIB do terceiro trimestre e outros 0,5% de aumento no último trimestre do ano. Ele pondera que o setor externo deve contribuir positivamente com dois pontos porcentuais para o PIB deste ano, mas não impedirá uma retração de 3,4% em 2016.
Para ele, o saldo comercial deverá subir de US$ 19,68 bilhões em 2015 para US$ 29,5 bilhões neste ano. "O fim do risco político, se afastada a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mais a realização de concessões de infraestrutura e início de redução dos juros pelo BC em outubro deverão melhorar os sinais da economia e começar um incremento paulatino da demanda agregada no segundo semestre", destacou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.