A disparada dos calotes levou os bancos que operam no Brasil a provisionar R$ 183,7 bilhões para cobrir possíveis prejuízos ; um recorde. O saldo contabilizado em dezembro do ano passado é 24,7% maior que os R$ 147,3 bilhões reservados no mesmo período de 2014. Especialistas alertam que, diante do forte aumento do desemprego, da inflação alta, da queda da renda e da falência de empresas, as reservas contra a inadimplência vão aumentar pelo menos até o fim de 2017.
Nem a restrição na oferta de crédito e nem o rigor maior das instituições financeiras na hora de aprovar os financiamentos têm sido suficientes para conter o avanço dos calotes. Segundo o Banco Central, a inadimplência entre as pessoas físicas atingiu, no mês passado, 6,1%, o nível mais elevado desde 2012, quando os bancos ainda digeriam a onda de calotes provocada por aqueles que compraram carros a perder de vista e não conseguiram honrar as prestações.
Entre as empresas, destacou a Serasa Experian, o quadro é dramático. Tanto que o número de recuperações judiciais começou 2016 em disparada. Subiu 29,7% em janeiro ante o mesmo mês do ano passado. Não por acaso, mesmo estando com dinheiro de sobra no caixa, as instituições financeiras têm preferido não emprestar. Essa postura resultou em uma queda de 0,8% do estoque de crédito dos bancos privados em 2015, a primeira da história.
Pelos cálculos do economista João Morais, da Tendências Consultoria, mantido o atual quadro de recessão profunda, a taxa de calotes dos consumidores chegará a 6,5% no fim deste ano e a das companhias, a 4,9% ante os 4,5% atuais. Ele alertou que uma alta adicional não é descartada em meio à piora da atividade e à falta de perspectivas de recuperação do país. ;O que cabe aos bancos fazer para evitar o descontrole da inadimplência tem sido feito. Isso impede que um problema maior. Mas o quadro é ruim e a tendência, de piora;, destacou.
De mal a pior
Na avaliação de Morais, são as empresas as principais responsáveis pelo aumento das provisões dos bancos contra calotes. O ambiente recessivo está sendo dramático para o setor produtivo. Há, ainda, os problemas provocados pela corrupção na Petrobras. A Operação Lava-Jato, que desvendou o esquema, pegou em cheio as maiores empreiteiras do país. Algumas delas foram obrigadas a pedir recuperação judicial.
Para o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, desde o ano passado, os bancos vêm elevado as provisões contra perdas já prevendo a disparada da inadimplência. Segundo ele, com o aumento do desemprego e a queda da renda, as famílias têm sofrido para manter as contas em dia. Muitas reduziram drasticamente o consumo. Sem demanda por seus produtos, as empresas viram o faturamento cair e, consequentemente, passaram a enfrentar dificuldades para pagar os financiamentos.
Queda de até 5% do PIB
O Itaú Unibanco projeta retração entre 2,5% e 5% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Segundo o presidente da instituição, Roberto Setubal, o banco está procurando ser realista. ;Acho que a queda de 5% é muito negativa. Ninguém vê isso nesse momento. Ao longo do ano, vamos avaliar. Se for melhor que isso, ótimo, melhor ficar feliz do que ter razão;, disse.
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