Economia

Falta de vacinas na rede pública penaliza famílias

Desabastecimento no SUS obriga consumidores a recorrerem a clínicas privadas para conseguirem os imunizadores, pagando valores elevados. Tempo de espera pode chegar a um ano, dependendo do medicamento procurado

Rodolfo Costa
postado em 24/02/2016 06:00

A fisioterapeuta Suzana dos Santos Lins gastou R$ 1.150 com aplicação de apenas duas doses da vacina contra meningite B para a filha, Rebeca


Os gastos com saúde sempre pesaram no bolso dos consumidores. Desta vez, são os custos com vacinas que têm dado dores de cabeça às famílias. Com unidades públicas de saúde desabastecidas de alguns produtos, as pessoas estão tendo que recorrer a clínicas particulares, pagando valores elevados. No Distrito Federal, esse tem sido o caso das vacinas dTpa infantil e dTpa para gestantes, que imunizam contra difteria, tétano e coqueluche acelular. Em unidades particulares, a aplicação em grávidas poder custar R$ 264.

Com 26 semanas de gestação, a confeiteira Jéssica Lorrane Victoria da Silva Sato, 24 anos, completará na próxima semana o tempo mínimo para a aplicação da dTpa, e teme que, até lá, as unidades públicas continuem desabastecidas. ;É uma falta de respeito com a população. Pagamos muitos impostos e queremos ter um retorno;, reclamou.

Falhas no abastecimento de vacinas nas unidades públicas não são exclusividade do DF. Casos semelhantes foram registrados neste ano em Santa Catarina, Tocantins e São Paulo. As principais reclamações se referem às imunizações contra hepatite B. ;Só consegui encontrar a vacina após ligar para mais de 15 postos;, reclamou Lorrane. É um medicamento muito importante para alguém como eu, que está em período de gestação;, reclamou.

Na capital federal, reposições começaram a ser feitas na última sexta-feira, com a disponibilização de 42,1 mil doses pelo Ministério da Saúde. Uma atendente de clínica particular, que preferiu não se identificar, disse que, com a grande demanda, o preço foi reajustado em 8%. ;Há duas semanas, estava em R$ 100. Agora, o custo é de R$ 108;, disse.

A pressão de custos, entretanto, preocupa principalmente quem depende de vacinas que não integram o Programa Nacional de Imunização (PNI), como a de meningite B. Mãe de Rebeca, de 11 meses, a fisioterapeuta Suzana dos Santos Lins, 35, constatou que os preços cobrados pelos laboratórios privados subiram muito nos últimos meses. Quando levou a filha para a aplicação da primeira dose, pagou R$ 550. Na segunda vez, em novembro, desembolsou R$ 600. Agora, o valor já chega a R$ 800. ;Como só falta uma dosagem, vou até o fim com o tratamento. Mas é um absurdo pagar quase R$ 1 mil em um vacina;, reclamou.

A procura pela vacina contra meningite B é grande, mas há pouca oferta no mercado. Por conta disso, a espera em clínicas privadas de Brasília chega a um ano. Foi o tempo que aguardou a servidora pública Talita Leite Milhomem, 31, que conseguiu imunizar o filho de 3 anos apenas no último sábado. Ela gastou R$ 700 na primeira dose e, para evitar mais dores de cabeça, antecipou o pagamento de outra dose para daqui a dois meses, caso haja o produto no estoque. ;A situação financeira ficou difícil, mas preferi prevenir e imunizar meu filho;, disse.

A gerente de uma clínica em Brasília contou que tem recebido pequenos lotes da vacina contra meningite B. ;Em média, são 20 doses por remessa;, afirmou. Como a procura aumentou muito, o estabelecimento está trabalhando com lista de espera. Segundo ela, os valores estão subindo devido à alta do dólar.

O presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, destaca que 90% dos insumos de medicamentos vêm do exterior. ;Muitas vacinas são importadas. E a escassez não contribui em nada em um ambiente de alta demanda;, avaliou.

Economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes não descarta novas altas. ;O excesso de demanda e a depreciação do câmbio em nada ajudam na composição de preços de itens farmacêuticos;, afirmou. Em janeiro, a inflação dos itens de saúde e cuidados pessoais foi de 0,66%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na prévia da inflação de fevereiro, divulgada ontem por meio do IPCA-15, a alta foi de 1,04%.

O Ministério da Saúde esclareceu que, devido à indisponibilidade de algumas vacinas nos mercados nacional e internacional nos últimos meses, houve atraso na distribuição no Sistema Único de Saúde (SUS). O órgão informou que foram adquiridos 2,5 milhões de doses da vacina dTpa para gestantes, que aguardam análise de controle de qualidade para distribuição aos estados. Em relação à dTpa para crianças, a pasta está disponibilizando a vacina dTpa tipo adulto, ;que pode ser aplicada em crianças a partir de 4 anos como segundo reforço, ou seja, para quem recebeu previamente as três doses do esquema básico;.

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