Economia

Moody's, última grande agência a rebaixar a nota do Brasil

De acordo com o economista da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto, esse rebaixamento não deve ter nenhum impacto adicional na economia do país

Agência France-Presse
postado em 24/02/2016 16:36

As três grandes classificadoras de risco do mundo consideram especulativa a dívida do Brasil, depois que de a britânica Moody;s se tornar, nesta quarta-feira (24/02), a última a tirar o selo de bom pagador do país.

A Moody;s reduziu a nota de crédito da sétima economia mundial, atingida por uma profunda crise econômica e política, de Baa3 a Ba2, com perspectiva negativa, o que significa que podem ocorrer novos rebaixamentos.

O rebaixamento era esperado pelo mercado. A Standard & Poor;s e a Fitch já haviam retirado do Brasil o apreciado grau de investimento no passado, deixando o país em estado de grande vulnerabilidade porque os grandes fundos de capital não podem investir em países cuja dívida soberana é considerada especulativa por duas ou mais agências.

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"Esse novo rebaixamento não deve ter nenhum impacto adicional do ponto de vista econômico. Essa é a mesma nota dada pela Standard & Poor;s há algumas semanas e já era esperado. Não é uma surpresa", explicou à AFP Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, em São Paulo.

"As condições econômicas já são bastante negativas no Brasil, não é esse rebaixamento o que traria um impacto adicional negativo porque a situação já é bastante ruim para os próximos meses", acrescentou.

Alta improvável

A agência justificou a medida nas "perspectivas de uma maior deterioração nas métricas da dívida em um ambiente de baixo crescimento, onde provavelmente a dívida pública superará 80% do PIB nos próximos três anos", segundo um comunicado.

A agência também cita o desafiador cenário político no país, que, assim como ocorreu em todo o ano de 2015, dificulta a aplicação de reformas e o ordenamento fiscal em uma economia que, de acordo com analistas de mercado, retrocedeu 3,8% em 2015.

O governo espera uma contração da economia de 2,9% em 2016, enquanto projeções privadas preveem uma queda de 3,5%. Se estes prognósticos forem confirmados, o Brasil viveria seu primeiro biênio recessivo desde 1930-31.

"A diminuição a Ba2 pretende capturar a deterioração atual, enquanto o panorama negativo contempla os riscos de uma maior deterioração no perfil de crédito do Brasil, produto de choques macroeconômicos, uma maior disfuncionalidade política ou a necessidade de sustentar entidades públicas", acrescentou a Moody;s.

O Ministério da Fazenda declarou em um comunicado que espera que o rebaixamento da Moody;s seja "temporário" e que as decisões das agências não alteram seu compromisso em realizar um ajuste fiscal que lhe permita estabilizar a "trajetória da dívida pública e a recuperação da economia brasileira no médio prazo".

A Moody;s, por sua vez, afirmou que uma melhora da nota da dívida soberana no Brasil é muito improvável no curto prazo.

"Claro que o Brasil tem condições para recuperar as notas perdidas, mas não será nos próximos anos, pelo menos não nos dois ou três próximos anos. É muito possível que o Brasil volte a ter condições de recuperar sus notas a partir de 2019 e 2020, já que o risco é que em 2016 o país perca mais uma nota", especula Campo Neto.

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