Economia

Comércio com 11 parceiros comerciais na América do Sul esbarra na logística

Barreiras tarifárias e burocracia alfandegária e limitações de transporte são mencionadas como maior obstáculo para ampliar as exportações.

Agência Estado
postado em 02/03/2016 09:33

Os estragos que esses gargalos logísticos causam na exportação nacional foram captados em um novo estudo elaborado pela CNI

A precariedade da malha de transporte nacional tem comprometido o potencial de exportação do Brasil com nove de seus 11 parceiros comerciais na América do Sul. Por ano, cerca de US$ 1,5 bilhão em produtos manufaturados, como carros, têxteis e alimentos, deixa de entrar na conta de comércio com os países vizinhos por causa das péssimas condições de infraestrutura, seja em rodovias, portos ou ferrovias.

[SAIBAMAIS]Os estragos que esses gargalos logísticos causam na exportação nacional foram captados em um novo estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O relatório ;Desafios para a Integração Logística na América do Sul;, ao qual o Estado teve acesso exclusivo, calculou quanto do potencial exportador do Brasil tem sido frustrado pelas dificuldades de transporte. O cenário levou em conta a distância em relação a cada país sul-americano, o volume de produtos escoados por cada modal de transporte e o tamanho de seus mercados.

Os dados mostram que as exportações para a Argentina, o principal parceiro comercial do Brasil na região, têm hoje desempenho 7% inferior à sua real capacidade por conta das rotas deterioradas de acesso entre os dois países. No Peru e na Colômbia, essa frustração é de 5% do potencial pleno. A lista segue com Venezuela (4%), Chile (3%), Suriname (2%), Guiana, Paraguai e Uruguai, esses três últimos com restrição de 1% em seus desembarques potenciais. Apenas Bolívia e Equador não apresentaram alterações.

"É um cenário preocupante e que ainda não foi efetivamente atacado pelo governo. Priorizar projetos de infraestrutura para essa região é vital. Os países sul-americanos se tornam o destino de 16% das exportações brasileiras. Isso exige um tratamento mais pragmático e menos político", afirma Matheus Castro, especialista em política e indústria da CNI.

O relatório, que também se baseou em entrevistas realizadas com grandes empresas exportadoras para a região, apontou que, depois de barreiras tarifárias e burocracia alfandegária, as limitações de transporte são mencionadas como maior obstáculo para ampliar as exportações.

Em 2010, o recém criado Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan), órgão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), estabeleceu uma lista de 31 projetos prioritários para melhorar a interligação entre os países da região, um pacote de obras estimado em US$ 21 bilhões. Seis anos depois, nenhum empreendimento da lista foi concluído. Atualmente, 15 estariam em ;fase de execução; e 16 sequer tiveram início.

Os dados apontam que, até dezembro de 2014, foram investidos US$ 951 milhões nos projetos, apenas 4,5% do total previsto no lançamento do projeto.

É preciso destacar, no entanto, que algumas obras já concluídas anos atrás entraram nessa conta. Na prática, portanto, a evolução dos empreendimentos é próxima do zero. "Os programas são desproporcionais à realidade e à capacidade efetiva de cada país em realizar esses projetos. É preciso que haja prioridade efetiva", analisou o especialista da CNI.

Durante o ano passado, as exportações do Brasil para a América do Sul movimentaram US$ 31,1 bilhões; elas foram ao todo de US$ 36,7 bilhões durante o ano anterior.

Escoamento

Historicamente, a Argentina responde por cerca de 40% do total das exportações brasileiras. Atualmente, a principal rota usada para levar produtos manufaturados ao país vizinho é mesmo a rodovia (48% do total), seguida pelo transporte marítimo, com 45% do total, o fluvial que responde pode 4%, o aéreo (2%) e ferroviário, este último com apenas 1% do total. Se consideradas as exportações para os 11 países, o mar é o destino usado por 53% das cargas escoadas, seguido por rodovias (39%) e transporte aéreo (5%). Os demais 3% se dividem entre ferrovias e rios.

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