Os mercados operaram em clima de euforia ontem, com a ação da Polícia Federal que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento sobre benefícios que teria recebido de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. A operação reforçou as apostas em um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff por conta do envolvimento da cúpula do PT no esquema de corrupção da Petrobras. O efeito contundente dos rumos da política no mercado financeiro deixou claro que, para os investidores, só o afastamento do atual governo poderá garantir o fôlego necessário para que a economia do país saia do atoleiro.
Logo após a condução coercitiva de Lula pela PF, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) abriu em forte alta e chegou a superar os 50 mil pontos, com valorização de quase 6% no início do pregão. No fim do dia, o Ibovespa fechou com ganho de 4,18%, aos 49.166 pontos. O dólar caiu abaixo dos R$ 3,70, mas reduziu as perdas e registrou queda de 1,09%, a R$ 3,76, valor mais baixo desde 9 de dezembro de 2015. Na semana, a desvalorização da moeda foi de 5,93%, o maior recuo semanal desde outubro de 2008. No mês, a divisa norte-americana acumula baixa de 6,06% e, no ano, de 4,74%.
Para a consultoria de risco político Eurasia Group, o mercado está certo. Ela apontou pela primeira vez, em relatório a clientes, como ;provável; a queda da presidente Dilma Rousseff. Até agora, os analistas da Eurasia vinham estimando tal risco em 40%, mas o cenário mudou com a nova etapa da Operação Lava-Jato. ;A ação da Polícia Federal indica que o tamanho e o escopo das investigações devem se aprofundar nos próximos meses;, afirma o relatório.
O economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, explicou de forma simples a reação do mercado sobre os fatos da política: ;Esse governo faz tudo errado, consequentemente, se ele sair, a economia vai melhorar;, resumiu. A expectativa é de que, qualquer que seja o novo governo, não vai conseguir ser tão ruim quanto a administração Dilma.
;A primeira reação é sempre muito forte. Os ajustes ao longo do dia, sobretudo no dólar, ocorreram porque os fundamentos da economia continuam se deteriorando;, destacou Camargo. Ele acredita que, na eventualidade de impeachment, cassação ou renúncia de Dilma, o dólar pode não voltar aos R$ 4. ;Basta o próximo governo ter um política mais consistente. Agora, se continuarem as indefinições, ele retoma rapidamente o patamar;, observou.
Na dúvida sobre o futuro da moeda dos EUA, a cotação de R$ 3,76 provocou uma correria às casas de câmbio. Segundo especialistas, o momento é propício para quem precisa comprar a divisa. ;O dólar em R$ 3,70 ou R$ 3,80 não corresponde aos fundamentos econômicos do país. Agora, com a perspectiva da saída da Dilma, há a possibilidade de continuar na tendência de baixa a curto prazo;, estimou Roberto Indech, analista da Corretora Rico. ;Mas o patamar realista, por conta dos indicadores deteriorados, deveria ficar acima de R$ 4;, destacou.
Na opinião de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, a atual crise tem muito a ver com a governabilidade. ;Qualquer manifestação que vai na ideia de que pode haver uma restauração da governabilidade, no sentido de enfrentar a crise econômica, causa euforia. Isso não quer dizer que a única solução venha do impeachment. Poderia vir também de um governo de união nacional, com acordo da oposição, que levasse o país a buscar soluções;, argumentou.
Kawall ressaltou que a crise está punindo a Bolsa de Valores e o resultado das empresas, sobretudo as estatais. ;As empresas públicas são as mais afetadas. No fundo, elas também têm uma situação que remete ao problema fiscal. Algumas necessitam de capitalização;, assinalou. Ontem, o bom resultado do Ibovespa foi puxado pela forte alta das ações da Petrobras. As ordinárias subiram 9,44%, cotadas a R$ 9,97, e as preferenciais se valorizaram 9,89%, precificadas em R$ 7,22. Com isso, os ativos da petroleira alcançaram ganho de 50% na semana, algo inimaginável até recentemente. No pregão de ontem, os papéis do Banco do Brasil avançaram 9,81%, cotados a R$ 18,24; os preferenciais da Eletrobras subiram 2,46% e os ordinários, 1,68%.
Segundo analistas, os investidores avaliam que, nos governos petistas, as empresas estatais foram usadas para engordar o poder político do PT e para manter a inflação artificialmente abaixo do teto da meta, de 6,5%. Com a eventual queda de Dilma, as companhias passarão a atuar com maior autonomia e gerar mais lucros. Na outra ponta, as ações do grupo JBS caíram mais de 13%. A empresa tem fortes ligações com Lula, e foi uma das eleitas pelo Planalto para receber generoso apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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