Os saques da poupança ultrapassaram os depósitos em R$ 6,6 bilhões em fevereiro, informou ontem o Banco Central (BC). É o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1995. Nos dois primeiros meses do ano, a caderneta já acumula deficit de R$ 18,6 bilhões, um recorde para o bimestre. Os especialistas avaliam que essa será a tendência do ano e apostam que, em 2016, o resultado será pior que o registrado no ano passado, quando os brasileiros resgataram R$ 53,5 bilhões das economias para enfrentar a crise.
Com o aumento do desemprego, os trabalhadores têm recorrido à poupança para tentar manter as contas em dia. Além disso, a inflação em alta, que encarece o preço de produtos e serviços, não tem dado margem para as famílias guardarem qualquer quantia. Para piorar a situação, com a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, a caderneta perde a atratividade como modalidade de investimento, já que rende o o equivalente a 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), que é muito baixa. As NTN-Bs, emitidas pelo Tesouro Nacional, por exemplo, pagam um valor que corresponde ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 10,71% nos últimos 12 meses, mais uma taxa de juros.
Em fevereiro os depósitos da poupança somaram R$ 152 bilhões, e os saques, R$ 159 bilhões. Já o rendimento acumulado no período chegou a R$ 4 bilhões. Com isso, o saldo encolheu de R$ 648,6 bilhões para R$ 646 bilhões. Em meio ao resgate em massa das economias, o nível do crédito para o setor imobiliário, financiado com recursos das cadernetas, encolheu.
Representantes do segmento procuraram o governo no ano passado em busca de medidas para estimular a construção de imóveis. A autoridade monetária alterou as regras de depósitos compulsórios e abriu a possibilidade de as instituições financeiras injetarem R$ 22,5 bilhões no crédito para o segmento habitacional.
Perspectivas
Na avaliação de Nicola Tingas, economista e especialista em crédito, a tendência é que os saques da poupança continuem a ultrapassar os depósitos ao longo de 2016. Ele detalhou que sem a retomada dos investimentos, que possibilitariam a geração de empregos, os brasileiros terão cada vez mais dificuldades de manter as contas em dia. Além disso, ressaltou que, com o aprofundamento da crise, aqueles que conseguiram gozar de algum benefício trabalhista, como abono salarial ou seguro-desemprego, perderão a ajuda e não se recolocarão no mercado.
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