Economia

Brasil leva o grupo varejista francês Casino a prejuízo global

Segundo o grupo francês, que controla bandeiras como Pão de Açúcar, Extra e Casas Bahia, os problemas da subsidiária brasileira vão desde a inflação, que corroeu a margem dos supermercados, até uma fraude descoberta no comércio eletrônico

Agência Estado
postado em 10/03/2016 11:21

Após vários trimestres com termos elogiosos à operação brasileira, o resultado de 2015 do Casino, divulgado na quarta-feira, 9, teve tom bem menos otimista. "Os resultados foram primariamente afetados pela desaceleração econômica no Brasil e pelo impacto das taxas de câmbio", resume o balanço da empresa. Segundo o grupo francês, que controla bandeiras como Pão de Açúcar, Extra e Casas Bahia, os problemas da subsidiária brasileira vão desde a inflação, que corroeu a margem dos supermercados, até uma fraude descoberta no comércio eletrônico.

[SAIBAMAIS]O desempenho mais fraco no Brasil fez o conglomerado fechar 2015 com um prejuízo líquido de 43 milhões euros, revertendo lucro de 253 milhões de euros obtido no ano anterior. A varejista também informou que as vendas líquidas recuaram 4,8% no período, para 46,15 bilhões euros, pressionadas pelo um declínio no negócio de eletrônicos da América Latina.

Apesar da piora dos números da filial brasileira, o principal executivo da varejista francesa, Jean-Charles Naouri, reafirmou a aposta no País. "Eu realmente continuo acreditando no Brasil", disse Naouri em apresentação aos acionistas e analistas em Paris "O Grupo Pão de Açúcar é uma operação que já criou valor para o grupo e somos líderes em alimentos e não alimentos em um país de 200 milhões de habitantes. Esse é um grande ativo."

O executivo lembrou que o Casino já viveu outras crises no Brasil e afirmou que o próprio avanço do grupo no País aconteceu especialmente em momentos de turbulência. "Sempre investimos, mesmo em tempos de crise, como em 1997 e 1998. Naquela época, o Brasil e o Grupo Pão de Açúcar estavam com problemas."

Naouri acredita no avanço dos indicadores da operação brasileira "Os números mostram que há dificuldade. Estamos monitorando e há potencial de melhorar", disse. "Países têm altos e baixos e, nesse contexto, temos de cortar custos e investimentos e ter disciplina financeira. A Via Varejo tem números negativos, mas cada vez menos negativos."

No principal negócio da empresa no Brasil, os supermercados, a companhia disse que "o custo da inflação colocou pressão sobre a margem em um ambiente de fraco crescimento das vendas" de alimentos. Apesar disso, a varejista citou que o segmento mostra "resiliência", com destaque para a alta renda e a operação de atacarejo.

No comércio de eletroeletrônicos, as vendas líquidas na América Latina - que agrupam basicamente o resultado das Casas Bahia e Ponto Frio - caíram 28% em um ano. Para tentar contornar a situação, a Via Varejo - subsidiária que administra as duas bandeiras no Brasil - adotou um plano para tentar reduzir os custos operacionais.

Na operação de vendas online, os problemas do Brasil também apareceram. O resultado da divisão foi afetado negativamente pelo ambiente macroeconômico e por uma fraude identificada na Cnova Brasil. O desvio de mercadorias descoberto na operação ocorria desde 2011 e gerou rombo de R$ 177 milhões, segundo a empresa informou em fevereiro.

Câmbio

A desvalorização do real teve ainda um papel central no prejuízo do Casino, já que, com o atual câmbio, o resultado em reais gera dividendo menor para o controlador quando convertido para euros. O real teve a maior desvalorização entre as divisas a que o Casino tem grande exposição, com queda de 15,7% frente ao euro entre 2014 e 2015, aponta o balanço.

Na França, o grupo enfrenta cobrança dos investidores por melhores resultados, uma vez que vendas de ativos e a fraqueza dos resultados no Brasil deixaram o varejista mais dependente do mercado local.

Recentemente, o Casino lançou um plano de redução de endividamento, que inclui a venda de ativos na Tailândia e no Vietnã que prevê arrecadar 4 bilhões de euros. O objetivo é abater parte da dívida líquida do grupo, que somava cerca de 6 bilhões de euros.

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