Simone Kafruni, Paulo de Tarso Lyra
postado em 16/03/2016 00:27
A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer parte do ministério e controlar a política econômica do governo Dilma Roussef acelerou ontem as perdas do mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM) despencou 3,56%, para 47.130 pontos. O dólar subiu 3,03%, fechando a R$ 3,763 para a venda, na maior alta diária desde 13 de outubro. Em apenas dois dias, a moeda norte-americana subiu 4,79%, tirando poder de compra do real. Na semana passada, acumulava no mês queda de 10,3%.[SAIBAMAIS]Os rumores de que Lula pode substituir Ricardo Berzoini na Secretaria de Governo, ou Jaques Wagner na Casa Civil, com poderes ampliados, fizeram a bolsa paulista ter o pior pregão desde 2 de fevereiro. Nem mesmo a homologação da delação premiada do senador Delcídio do Amaral pelo Supremo Tribunal Federal e a acusação de que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tentou calar o delator ; dois movimentos contra o governo, que animariam os investidores ; conseguiram acalmar o mercado.
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Para Ricardo Kim, analista da XP Investimentos, desde o início da manhã, o movimento do pregão refletiu as especulações de que Lula iria para o ministério. ;A delação e o Mercadante só serviram para dar mais incerteza e volatilidade;, explicou. O especialista pontuou que, com Lula no governo, fica mais difícil emplacar o processo de impeachment. ;Além disso, o ex-presidente já indicou que sua política econômica seria mais expansionista e que as discussões sobre reformas estruturais ficariam de lado;, destacou Kim.
Na opinião de Roberto Indech, analista da corretora Rico, o efeito Lula foi dominante no mercado sobretudo porque há a certeza de que ele não assumirá uma posição de figurante no governo. ;Ele será o protagonista e isso traz mais incerteza sobre a economia;, ressaltou. Indech lembrou que a Bolsa também sofreu impacto da queda das commodities no mercado internacional. ;Minério e petróleo recuaram. Isso afetou os papéis mais negociados do Ibovespa;, disse, referindo-se aos ativos da Petrobras. As ações ordinárias da estatal caíram 6,60% e as preferenciais, 10,68%.
O noticiário político teve impacto também nas negociações de títulos de empresas brasileiras no exterior. Entre os principais American Depositary Receipts (ADRs), papéis que representam ações de companhias nacionais, listados na Bolsa de Valores de Nova York, os da Petrobras baixaram 8,24% e os da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) despencaram 16,16%. Também tiveram perdas significativas Gol (-13,76%), JBS (-8,98%), Bradesco (-8,41%), Eletrobras (-11,92%) e Gerdau (-11,89%).