Economia

Lula vai ajudar a afundar ainda mais o barco governista, dizem economistas

São grandes os temores de uma guinada à esquerda na política econômica, o que, na avaliação de analistas, deve piorar ainda mais o quadro fiscal

Rosana Hessel
postado em 16/03/2016 08:02
A péssima repercussão no mercado financeiro, ontem, da iminente nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o ministério da presidente Dilma Rousseff mostrou que, entre os investidores, quase ninguém acredita que ele vá salvar o governo. A impressão é a de que, apesar do traquejo político e da oratória poderosa, Lula só vai ajudar a afundar ainda mais o barco governista. São grandes os temores de uma guinada à esquerda na política econômica, o que, na avaliação de analistas, deve piorar ainda mais o quadro fiscal, cuja deterioração foi o principal motivo para que o país perdesse o grau de investimento concedido pelas principais agências de classificação de risco.



[SAIBAMAIS];Se Lula for para o governo, não há dúvidas de que o Brasil estará contratando uma recessão de mais de 5% em 2015 e não mais de 3,5% a 4%, como alguns preveem;, afirmou a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington. ;Que empresário vai investir no meio deste clima de incerteza política?;, questionou.



Barco furado
Na avaliação do diretor para a América Latina do Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves, Lula levará mais passivos do que ativos para o governo na atual conjuntura. ;O barco está furado. A entrada dele, com todo o peso que carrega, só ajudará o governo a afundar mais rápido;, vaticinou. Na semana passada, o Eurasia divulgou estudo em que elevou de 55% para 65% as chances de impeachment de Dilma e avaliou que o processo deverá ser concluído na Câmara dos Deputados até abril. ;Com tudo o que está acontecendo nesta semana, é possível que o trâmite seja ainda mais rápido;, disse Neves.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, estima que a chance de queda de Dilma é de 70%, com ou sem Lula no governo. ;Isso deve acontecer até a metade do ano, e aí o PIB cairia 3,8% em 2016. Caso Dilma não saia, nossa expectativa é de queda de 4,9% no PIB;, explicou. No entender de Vale, se o ex-presidente implementar medidas populistas que elevem o gasto público para agradar a base de esquerda, em vez de impulsionar a economia ele vai ;implodir o que já está afundando;. ;Se o governo começar a usar as reservas, por exemplo, o dólar vai a R$ 4,50 rapidamente. Em um cenário em que Lula começasse a interferir mais na economia, revisaríamos a projeção de queda do PIB para um número maior que 4,9%, ou seja, ele conseguiria dar um sinal ainda pior do que Dilma.;

O coordenador do Movimento Brasil Eficiente, economista Paulo Rabello de Castro, tentou sintetizar o quadro: ;Não há mais o que dizer. Esse governo acabou. Já não governa mais;. No Ministério da Fazenda, o clima é de tensão diante de tanta incerteza. Uma das questões é se Lula no governo sinalizaria a nomeação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a pasta. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o ministro Nelson Barbosa fica. Ele já deixou momentaneamente de lado a espinhosa reforma da Previdência, e só voltará a falar nela em abril, data prevista para a próxima reunião do fórum formado para debater o assunto. No momento, ele está debruçado sobre a proposta da banda fiscal, que pretende enviar ao Congresso até a próxima terça-feira.

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