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Próximos da ruína

A política econômica da presidente Dilma Rousseff, com todos os seus equívocos, colocou o setor produtivo próximo do colapso. Dados coletados por técnicos do governo mostram que empresas de todos os portes estão com um pé na falência e, se quebrarem, vão levar o desemprego para muito além dos 9,5% captados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro é tão complicado, que as principais instituições financeiras já enviaram um sinal de alerta ao Banco Central. Dependendo do tamanho da ruína das companhias, alguns bancos também podem vir a apresentar problemas.

Diante da gravíssima recessão na qual o país está mergulhado, as vendas despencaram. Em alguns casos, o faturamento nos dois primeiros meses deste ano caiu à metade do observado em igual período de 2015. O fluxo de caixa não está sendo suficiente para cobrir todas as despesas operacionais, inclusive a folha de salários. Desde a segunda metade do ano passado, quando a atividade começou a despencar, as empresas vêm cobrindo os gastos com empréstimos, por meio de linhas de capital de giro. Mas, como várias delas estouraram seus limites de crédito, os bancos fecharam as torneiras.

Ao deixarem as empresas à míngua, porém, o setor financeiro deu início a um processo de asfixia que pode resultar em uma bolha de inadimplência, com consequências graves para a economia real. A onda de calote se estenderia às pessoas físicas, vítimas do aumento das demissões. A situação, que hoje está sob controle, daria início a um movimento de pânico, o que só agravaria um cenário que já é bastante conturbado.

O BC garante que o sistema financeiro está forte o suficiente para lidar com qualquer tipo de estresse. Os bancos vêm se preparado para as dificuldades. Tanto que as provisões para créditos de difícil liquidação deram um salto expressivo entre dezembro de 2014 e janeiro deste ano, passando de R$ 147,3 bilhões para R$ 186,2 bilhões. Esse volume de dinheiro é, no entender da autoridade monetária, mais do que compatível com a alta da inadimplência das empresas, que, no mesmo período, subiu de 3,4% para 4,7%, e das pessoas físicas, que pulou de 5,3% para 6,2%.

Modelo da ditadura

Dentro do governo, a orientação é para que o BC apresse um programa para socorrer as empresas em dificuldades. A ideia, como já informou o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é liberar parte dos depósitos compulsórios que os bancos detêm junto à autoridade monetária. A liberação de recursos deve vir acompanhada do afrouxamento de regras prudenciais, para que as instituições financeiras possam assumir mais riscos. Há o perigo, porém, de, na ânsia de criar um fato positivo, o governo perder as rédeas do programa de incentivos. O histórico, como se sabe, é muito ruim.

Ex-diretor do BC, o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes lembra que o modelo de socorro que o governo está preparando já foi usado nos anos 1970, quando Mário Henrique Simonsen era ministro da Fazenda. Pelo programa de refinanciamento compensatório, o BC liberava recursos para que os bancos pudessem renegociar dívidas de empresas e de pessoas físicas em dificuldade. Com isso, se evitava uma quebradeira em massa. As operações eram controladas e prevaleceu em um espaço específico de tempo. Quer dizer, foram temporárias.

Na visão de Thadeu, não há, hoje, problema de falta de recursos para que os bancos possam emprestar. Muito pelo contrário, as instituições estão com o caixa abarrotado, engordando os lucros com os altos juros pagos pelos títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. O entrave está na falta de confiança. Os bancos não acreditam mais na clientela. Temem perder dinheiro com a severa recessão que assombra o país.

Para o economista, o BC pode até liberar compulsórios e facilitar as regras para os bancos operarem. Mas é vital que o dinheiro injetado no caixa das instituições seja carimbado, isto é, possa ser usado apenas para refinanciar e alongar as dívidas problemáticas. De nada adiantará ampliar a liquidez do sistema, se os bancos não favorecerem a clientela e destinarem os recursos para a compra de papéis do governo. A quebradeira vai acontecer de qualquer jeito.

Discurso furado
Responsável por boa parte do desastre que o país está vivendo, já que foi um dos mentores da nova matriz econômica, que trouxe de volta a inflação, o desemprego e a recessão, Nelson Barbosa está empurrando para o Congresso a responsabilidade para a salvação do país. Alega que todos as medidas para tirar o país do atoleiro dependem da aprovação de deputados e senadores que só pensam no impeachment da presidente Dilma. É muito cômodo para o ministro usar esse tipo de desculpa.

Barbosa foi o responsável pelo Brasil perder o selo de bom pagador das três principais agências de classificação de risco, ao enviar para o Congresso proposta de Orçamento deficitário em 2016. Ali, em agosto do ano passado, ele rasgou de vez o compromisso do governo com o ajuste fiscal. Quando cobra responsabilidade da Câmara e do Senado, o ministro só quer uma coisa: licença para gastar. Ao obter aval do Legislativo, ele poderá ampliar o rombo previsto nas contas públicas. Por isso, não há como levar a sério um chefe de equipe econômica que tem como maior projeto o desequilíbrio fiscal.

Com Antonio Temóteo