Quem pensa em financiar a casa própria pela Caixa Econômica Federal deve preparar o bolso. Ontem, a instituição, que responde por cerca de 70% do crédito imobiliário no país, anunciou o aumento dos juros para o financiamento de unidades residenciais, comerciais e mistas. Apenas as taxas de operações com recursos do Programa Minha Casa Minha Vida e do FGTS não sofreram mudança. A decisão alcançou o Sistema Financeiro Habitacional (SFH), voltado a imóveis de até R$ 750 mil, e o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), para bens com valor acima desse teto.
Em algumas modalidades, o reajuste atingiu 1,32 ponto percentual. É o caso da taxa balcão, aplicada a quem não têm relacionamento com a Caixa. Nesse caso, a taxa pelo SFH saltou de 9,90% para 11,22% ao ano. Pelo SFI, a alta foi de 11,50% para 12,50%. A correção foi disseminada, sendo aplicada inclusive para servidores públicos com relacionamento e conta-salário no banco (veja quadro).
Com o reajuste, as taxas cobradas pela Caixa ; que costumavam ser as mais baixas do mercado ; estão equiparadas aos juros praticados pelos principais bancos, que também elevaram recentemente os encargos cobrados dos clientes. O Santander, no entanto, informou que não há definição quanto a aumento nas atuais taxas, que variam entre 10,1% ao ano mais Taxa Referencial (TR) e 12,4%. O Banco do Brasil disse que não houve realinhamento dos juros, que se mantêm a partir de 11,3% ao ano mais TR. O Itaú Unibanco afirmou que, por enquanto, nada muda na estratégia.
A alta pegou de surpresa representantes do mercado imobiliário. ;É um balde de água fria;, lamentou o presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), Carlos Hiram Bentes David. No início do mês, a Caixa anunciou o aumento da parcela máxima financiável de imóveis, medida que começou a vigorar na última quinta-feira. O teto, que havia caído de 80% para 50%, em maio do ano passado, subiu para 70% no caso de unidades que se encaixam no SFH. Para servidores públicos, o limite subiu de 60% para 80%.
Expectativas
;A ampliação dos tetos de empréstimo deu mais estímulo ao consumidor. Agora, diante do aumento dos juros, a confiança voltará a cair;, avaliou Hiram. A análise é endossada pelo diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira. ;Qualquer aumento de 0,10 ponto percentual nos juros gera impacto no financiamento. Em um cenário de alta do desemprego, da inflação e dos juros, as incertezas são elevadas;, ressaltou.
O reajuste provocará aumento nas prestações de mais de R$ 600, calcula a Anefac. É o exemplo de um financiamento de R$ 750 mil pelo SFI com a taxa balcão. Antes do aumento, o consumidor que tomasse um empréstimo por 30 anos pagaria R$ 9.279,83 na primeira parcela e R$ 2.103,30 na última, totalizando R$ 2.047.343,75. Agora, o desembolso inicial será de R$ 9.895,83 e o último, de R$ 2.105,03, em um total de R$ 2.160.156,25.;Isso representa um aumento de R$ 616 na prestação e de R$ 112.812,50 no total do financiamento;, destacou Ribeiro.
Analistas não descartam a possibilidade de a Caixa voltar a aumentar os juros do crédito imobiliário ao longo do ano. A expectativa tem por base a previsão de aumento da inadimplência e o fato de os encargos cobrados pela instituição continuarem abaixo da taxa básica (Selic), de 14,25% ao ano. Para o diretor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery, a correção é necessária para a saúde financeira da Caixa. ;Ela não pode ficar emprestando dinheiro muito abaixo do custo para estimular o mercado;, ponderou. Caso a instituição precisasse ser capitalizada, lembra Ellery, a conta seria paga por todos os contribuintes via aporte de recursos pelo Tesouro Nacional.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique