Economia

Uso político faz estatais perderem R$ 60 bilhões em 2015

Para analistas, não há perspectiva de melhora tão cedo, pois as companhias estão entrando nas barganhas de cargos com o intuito de barrar o impeachment

Vera Batista
postado em 02/04/2016 08:00

Petrobras e Eletrobras responderam por R$ 50 bilhões das perdas no ano passado. Interferência do Planalto prejudica negócios


As empresas controladas pelo governo registraram prejuízo de R$ 60 bilhões em 2015, o maior da história. Apenas as duas maiores, Petrobras e Eletrobras, responderam por mais de R$ 50 bilhões das perdas. O péssimo desempenho das estatais foi consequência da desastrosa gestão da equipe econômica, que empurrou o país para a recessão, além de ingerência política e dos efeitos dos atos de corrupção, situações agravadas pelo quadro internacional desfavorável, no entender de analistas de mercado. Diante do quadro desolador, embora algumas medidas saneadoras estejam sendo tomadas, os resultados financeiros ainda refletirão os malfeitos por alguns anos. Melhoras nos balanços dessas organizações só devem acontecer a partir de 2018.

Segundo o Departamento de Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento, que ainda está conferindo as informações contábeis, quando incluídos os bancos no cômputo geral, os resultados melhoram um pouco, mas nada que seja motivo de comemoração. Muito pelo contrário. Os seis maiores grupos (Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa, BNDES e BNB), que representam 95% dos ativos totais, perderam, em 2015, mais de R$ 22 bilhões. O rombo da Petrobras, que em 2014 estava em R$ 21,9 bilhões, saltou para R$ 35,2 bilhões. Na Eletrobras, o prejuízo pulou de R$ 2,9 bilhões para R$ 14,9 bilhões. De acordo com o economista Alex Agostini, da agência Austin Rating, a ingerência governamental arrasou o patrimônio do país.

;Na Eletrobras, foi dramática a exigência de queda do preço da energia. Quando as tarifas finalmente subiram, ficaram tão caras, que provocaram retração no consumo. Na Petrobras, além do represamento dos preços dos combustíveis, houve queda na cotação internacional do petróleo;, disse Agostini. Para ele, esses fatores reduziram o caixa das estatais e estimularam a desconfiança dos investidores. ;O mais preocupante é que, quando se olha à frente, não se veem melhoras drásticas na gestão das estatais;, frisa. Em troca de apoio para derrotar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto está loteando o governo, e as empresas públicas não ficarão de fora da distribuição de cargos.

No entender de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, será difícil ver uma reversão rápida da Petrobras. A estatal registra endividamento próximo de R$ 500 bilhões. Com juros de 10% ao ano, cresce R$ 50 bilhões em 12 meses. Não bastassem os números preocupantes, as empresas controladas pelo governo sofrem com a falta de transparência, segundo o economista Cesar Bergo, sócio da Corretora OpenInvest. Para ele, em vez da profissionalização nos cargos de comando, a opção é sempre por nomear algum indicado por senadores ou deputados. Não por acaso, se veem resultados tão ruins. Entre 2014 e 2015, por exemplo a Infraero saiu de um lucro de R$ 58 milhões para um prejuízo de R$ 211 milhões.

Céticos, os analistas ressaltaram que, mesmo com a limpeza feita pela Operação Lava-Jato, a melhora nos resultados financeiros das estatais será quase imperceptível. ;A luz no fim do túnel talvez chegue em 2018. A crise ética e moral acabará melhorando a gestão dessas empresas;, frisou Bergo. Para Eduardo Velho, pode haver uma tendência de redução dos prejuízos. ;Uma vez que já foram reconhecidos o aumento das despesas e os impactos dos prejuízos da Lava-Jato, os investimentos e a política de preços serão mais realistas;, destacou.

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