Agência Estado
postado em 07/04/2016 14:55
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, voltou a afirmar nesta quinta-feira, 7, que o balanço de riscos atual para a inflação "não permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias". Em evento promovido pelo Itaú BBA em São Paulo, ele lembrou que o impacto das ações do BC ocorre gradativamente e com defasagem.
Tombini apontou que as perspectivas de inflação já começaram a melhorar e que o mês de fevereiro marcou o início do processo de declínio da inflação acumulada em 12 meses, o que foi corroborado pelo IPCA-15 de março. "De agora em diante, os efeitos desinflacionários da política monetária tendem a preponderar", afirmou.
Segundo ele, nos próximos meses outros fatores levarão à desaceleração da inflação, como o hiato do produto maior do que o esperado e a distensão no mercado de trabalho, que tem se acelerado. Além disso, câmbio e realinhamento de preços administrados terão um impacto menor este ano do que tiveram em 2015. "É importante que os desdobramentos da política monetária sejam avaliados por ótica prospectiva", ressaltou.
Meta
Tombini afirmou que "o Banco Central não se furtará, caso novos desenvolvimentos alterem o balanço de riscos da inflação, em adotar as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas." Ou seja, "circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional em 2016 e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017."
Ele destacou que a despeito da perspectiva de menor repasse cambial para os preços, menor variação de preços administrados, maior abertura do hiato do produto e ambiente externo com tendência de menor crescimento, o balanço de riscos para a inflação permanece desafiador. "Assim, entendo que os riscos inerentes ao comportamento das expectativas e das taxas de inflação observado até recentemente, combinados com a presença de mecanismos de indexação na economia brasileira e de incertezas quanto ao processo de recuperação dos resultados fiscais e à sua composição, não nos permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias."
Swaps e leilões de linha
Tombini citou também o programa de swaps cambiais e também os leilões de linha realizados pela instituição, afirmando que o BC tem agido sempre que necessário, mas mantendo o regime de câmbio flutuante. Tombini reforçou que o BC acumulou um colchão de reservas internacionais e atuou de forma consistente com esse mecanismo. Além disso, criou um programa de swaps cambiais, liquidado em reais, que é voltado à manutenção da estabilidade financeira.
O presidente do BC deixou claro ainda em seu discurso que a situação das contas externas brasileiras melhorou muito mais rápido do que se esperava e que a projeção atual é de superávit de US$ 40 bilhões na balança comercial este ano, com déficit na conta corrente estimado em US$ 25 bilhões. "O regime de câmbio flutuante atuou como primeira linha de defesa para nossos termos de troca", afirmou.
Ele lembrou ainda que o custo unitário do trabalho em dólares caiu quase 30% desde o pico atingido em 2014 e que o processo de substituição de importações avança e ganha intensidade, especialmente em setores como bens intermediários e de consumo duráveis. Além disso, já é possível ver sinais de maior dinamismo em setores exportadores, que podem acabar contribuindo com outros segmentos da economia brasileira.
Sistema financeiro
Tombini ressaltou também que, apesar do momento de dificuldade econômica vivido pelo Brasil, o sistema financeiro nacional continua sólido e bem capitalizado. Segundo ele, o desenvolvimento do crédito se dá em níveis adequados ao ambiente econômico, em meio à retração na demanda por recursos, e o aumento moderado da inadimplência não representa um risco para o sistema. Mesmo assim, ele ressaltou que os ajustes na economia têm sido importantes, "mas ainda não completaram seu ciclo".
"A solidez do sistema financeiro nacional é especialmente relevante neste momento de ambiente doméstico e internacional. A solidez do sistema será um fator crucial para a recuperação econômica do País", comentou, lembrando que a principal contribuição que o BC pode dar é trabalhar para proteger o poder de compra da moeda e a solidez dos sistema financeiro.